quinta-feira, 13 de outubro de 2016

PALMAS PARA GUTERRES

Pela segunda vez na vida vi com muita emoção uma sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas. A primeira foi quando Costa Gomes, então Presidente da República, discursou e pude ver - graças ao 25 de Abril - Portugal aceite no concerto das Nações enquanto membro de plena igualdade. Nessa altura, como hoje, senti um enorme orgulho carregado de enorme emoção.

Hoje, telever António Guterres ser aclamado enquanto novo Secretário-Geral, telever a salva de palmas com que foi brindado quando da sua entrada ou nas interrupções ao seu - excelente, diga-se - discurso, foi de um orgulho muito grande.
Esta eleição de Guterres representa um novo ciclo para as Nações Unidas: pela primeira vez a eleição foi realizada de acordo com os princípios da transparência. Quem quis soube ao que ia cada um dos candidatos e Guterres foi exemplar na construção da sua candidatura.
O seu anterior exercício de Comissário para os Refugiados dá-nos a certeza das suas capacidades e da tenacidade (ou resiliência) que porá no exercício deste cargo impossível como lembrou a Embaixadora americana. E também a certeza que não o exercerá sentado mas nos sítios necessários à sua influência. Em combate pelos princípios que enunciou.
O humanista Guterres tem as condições e convicções para que nos possamos vir a orgulhar do seu mandato. E uma certeza podemos desde já avançar: o seu exercício como o seu final serão de uma clareza de prestação de serviço a toda a prova. E ficaremos ainda mais orgulhosos com o legado transformador que este português deixará nas Nações Unidas.
Uma salva de palmas!

DYLAN, PRÉMIO NOBEL DA LITERATURA



SURPRESA! Fiquei, genuinamente, surpreendido, agradado e de boca aberta de espanto: a Academia Sueca decidiu atribuir o Prémio Nobel da Literatura a Bob Dylan "por ter criado novas expressões poéticas no espaço da grande tradição das canções americanas".
"Ele é um grande poeta" disse, no anúncio do premiado, Sara Danius secretária permanente da Academia, para acrescentar que "the times they are a'changing, perhaps" justificando a atribuição com um dos títulos dos álbuns de Dylan.
Come senators, congressmen
Please head the call
Don't stand in the doorway
Don't block up the hall
For he that gets hurt
Will be he who has stalled
There's a battle outside
And it is ragin'
It'll soon shake your windows
And rattle your walls
For the times they are a-changin'. 

Que mudem os tempos! Bons ares atravessaram a académica sala e atingiram em cheio a frescura de mentalidades que representa esta decisão dos seus 18 membros. E a ideia de cultura só ganha com isso. E ganha também a memória das gerações como a minha que se deliciavam com as suas "letras" e que lhe encontravam um sentido de vida que agora o Nobel vem confirmar. Afinal, sabíamos o que ouvíamos. Ouvíamos acerca de "condições sociais, religiosas, políticas e amor" como bem lembra o texto de atribuição do Nobel.




No mesmo dia de tristeza pela morte de Dario Fo, também prémio Nobel da Literatura (1997) e militante de esquerda sem bandeira como o definiu o Corriere della Sera, esse enorme émulo dos Bobos medievais "flagelando a autoridade e protegendo a dignidade dos espezinhados" como lembrou a Academia Sueca, não sei de melhor homenagem. Com qualquer deles aprendi a olhar para as coisas de outra maneira.

O QUE ANDAM A FAZER?

Segundo o que fomos sabendo via comunicação social, a GNR montou um enorme aparato para dar caça ao assassino de Aguiar da Beira. Cercou aldeias, pediu aos habitantes para não abrirem portas ou janelas, avisou que já poderiam sair de casa e decidiu mandar retirar o aparato com zero de resultado. O assassino continua a monte. E uma de duas: ou o assassino é da escola do James Bond ou a demonstração da GNR é de absoluta incompetência.
E a razão dada para justificar o abandono da operação - por não ter havido contacto com o "suspeito" - sendo ridícula consegue, ainda assim, ser de menor grau do que as garantias de que se manterá " a segurança às populações, através de acções de patrulhamento". Devem todos estar mais descansados...
Mas não é só por cá que a competência se mostra incapaz de atingir os objectivos pretendidos.
A polícia alemã da Saxónia prendeu Jaber Albakr, suspeito de estar a preparar um grande atentado terrorista. Um alívio portanto.
No entanto o prisioneiro - que tinha iniciado uma greve da fome - estava, dadas as possibilidades de suicídio, sob vigilância apertada. Os vigilantes devem ter-se distraído com golos do futebol ou com as cartas que o baralho não dava e pronto: o homem matou-se na cela. Suicidou-se! E o que mais poderia saber-se, ficou no ar esbugalhado de um enforcado...
O que é que andam a fazer?! Que dimensão, que limites, que objectivos têm os serviços que é suposto prestarem as forças de segurança? A GNR ao lançar a operação fê-lo apenas movida por interesses corporativos imediatistas? Os guardas prisionais de Leipzig acharam que vigiavam um estupor - o que é verdade - e que, portanto, pouco importava que se matasse?
Nestes conturbados e perigosos tempos que vivemos por onde ficam os deveres para com a comunidade que é suposto servirem? Com que nível de segurança e vigilância poderemos contar para além do absoluto fechar de portas que as direitas propõem?

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

LIÇÃO DE JUBILAÇÃO


A Jorge Olímpio Bento
Base: Foto com iPhone;
transformação, legendagem e finalização a ponta de dedo em aplicações de iOS
Como seria de esperar o meu Amigo Jorge Olímpio Bento na sua lição de jubilação - 29 de Setembro de 2016 - esteve fiel a si próprio: disse o que tinha a dizer sem máscara ou circunstância. E disse-o claramente numa lição que intitulou "Parrésia" ou "Coragem da Verdade". E fê-lo com o "vício da palavra sem grilhetas" numa lição de dignidade cívica que, como nos contou, lhe marca a forma de encarar a vida:
"Desde o berço e a escola primária na aldeia transmontana, até à jubilação da cátedra na Universidade do Porto, fiz a viagem com o substancial que os meus pais me ensinaram e transformaram em modo de agir: apego e o testemunho da verdade.  
À medida que fazia a viagem, mais ficava contaminado pelo vício da palavra sem grilhetas, desassombrada e desempoeirada."
E assim nos deu a sua visão vigorosamente crítica de uma Universidade neo-liberal, politicamente correcta, pouco dada ao questionamento e muito agarrada ao conforto da hipersimplificação que marca os seus tempos de hoje traduzidos em "instituição de formatação e instrução funcionalizante" da versão mercantilista de "fábrica de papers".
Uma lição feita legado para que os mais empenhados - estudantes incluídos - possam encontrar os caminhos que, revoltando-se, permitam alterar a actual circunstância de um reinado onde impera "um silêncio de morte"para a expressão de uma Universidade de atitude crítica, "de modéstia subversiva, atalaia e vigilância contra os cânones de toda a índole", perante o mundo e os seus sistemas num claro objectivo de, desencurralando-a, fazer o que deve ser feito.
Que aula!!! Uma jubilação a deixar a marca das "palavras sem grilhetas"! Mas manifestando sempre  o agradecimento a todos os que, com ele, partilharam a aventura de uma carreira cívica e universitária.
Lição a que assistiram inúmeros amigos vindos expressamente de muitas partes de Portugal, de Espanha, do Brasil, da Argentina a demonstrar o apreço pela pessoa, obra e carreira do Jorge Olímpio Bento.
Foi muito bom!

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

RIO 2016 - EXIGIR SEM BASES

Existe uma enorme tendência de uma boa parte dos portugueses para colocarem infundadas expectativas sempre que há representações desportivas nacionais em confronto internacional. Seja pela iliteracia desportiva que nos caracteriza, pelo mero desconhecimento da relatividade das coisas ou por um qualquer aproveitamento interesseiro, as representações desportivas nacionais são analisadas pelas aparências, sem qualquer objectividade e ignorando o seu meio de inserção. Como se tivessemos um Sistema Desportivo exemplar.

Se as esperanças em notáveis resultados podem resultar da vontade de nos fazermos valer, a sua transformação nas elevadas expectativas de quase certezas só serve para abrir o campo à desilusão. E, portanto, não havendo vitórias de arraso e independentemente da qualidade dos diversos resultados, tudo é mau ou desastroso, seja qual for o ponto de vista da análise, diz-se e escreve-se. Ou seja: bestiais na formatação das expectativas a bestas perante a aparência dos resultados. Tudo num salto palavroso de nota 10...

E mais uma vez assim foi no regresso da Missão portuguesa dos Jogos Olímpicos Rio 2016. Elevadas expectativas fundadas em irrealismos - como se não se tratasse de uma competição desportiva de altíssimo nível em confronto com os melhores e adequadamente preparados para tentar a vitória e onde só 8% dos 11 544 atletas presentes podem regressar com medalhas conquistadas - marcam o adjectivo da análise. Uma só medalha? E apenas bronze?! Um desastre!

Terá sido?!

Ao longo de 24 presenças olímpicas, o desporto português conseguiu 24 medalhas - 4 de ouro (Carlos Lopes, Rosa Mota, Fernanda Ribeiro e Nelson Évora), 8 de prata e 12 de bronze - numa média de uma medalha por cada participação. O que significa que Portugal está longe de campeões como os Estados Unidos com as suas 2546 medalhas. E tão pouco se aproxima dos países latinos europeus como a França (1169 medalhas), Itália (605), Espanha (148) ou Roménia (306) ou ainda da Holanda (195) ou Bélgica (164) - estes dois últimos com populações próximas da portuguesa.

Com a medalha conseguida pela notável e persistente Telma Monteiro, Portugal ficou dentro da sua média e colocou-se, com as 16 modalidades, entre as 28 possíveis, em que participou, em 78º lugar no Medalheiro - o que significa que conseguiu melhor do que os 119 países participantes que não obtiveram qualquer medalha - apenas 42% dos 205 países presentes obtiveram uma ou mais medalhas.

Lembre-se que todos os atletas portugueses presentes se qualificaram - obtendo as marcas estabelecidas - para poderem competir nos Jogos. Ninguém foi, portanto, sem mérito ou apenas para participar - atribuição de espectadores - mas sim para competir, embora e naturalmente, balizados pelas marcas conseguidas. Balizas que devem, desde logo, limitar as expectativas. Dando-lhes realidade - pensar, por exemplo, que as notáveis prestações de Nelson Évora com a melhor marca pessoal do ano e Patrícia Mamona com novo recorde nacional, poderiam garantir a certeza de medalhas é ignorar a existência de outros atletas com as competências e capacidades adequadas à vitória. Ignorar portanto que estamos integrados numa competição do mais elevado nível e de particulares características.

Os resultados globais da Missão foram maus? Não, não foram. E foram melhores do que o contexto onde se prepararam. Na sua enorme maioria - excepção feita a um ou outro erro, a um ou outro falhanço, a uma ou outra menor atitude - os atletas portugueses bateram-se com grande dignidade e tudo tentaram para honrar a responsabilidade da representação em que estavam investidos.

Os Jogos Olímpicos constituem a melhor e maior montra mundial de demonstração de capacidade desportiva de cada país e permitem uma análise comparativa global. A juntar a esta medalha de bronze, os atletas portugueses conseguiram 10 Diplomas olímpicos, isto é, obtiveram 10 classificações entre os 4º e 8º lugares classificando assim 12% do total dos seus atletas em finais. Entre os 9º e 16º lugares - habitualmente designados por semi-finalistas - a Missão portuguesa contou com 16 posições. E colocou ainda 6 atletas no 17º lugar. Ou seja: Portugal conseguiu 33 classificações - 36% do total dos seus atletas - abaixo do 20º lugar nas 57 provas em que teve a participação de seus representantes. Refira-se ainda que dos 92 atletas portugueses presentes - 32 mulheres e 60 homens - 54 deles não tinham qualquer experiência olímpica. Tratando-se da competição desportiva entre as competições desportivas, os resultados conseguidos apresentam-se com mérito que baste e não são compatíveis com o que se escreveu, disse ou colocou nas redes sociais.

Poderiam os resultados serem melhores? Claro! Podem sempre. Desde que haja a adequada aproximação de condições aos melhores competidores.

A realidade do sistema desportivo português é fraca e encontra-se muitos furos abaixo dos padrões europeus. Nas modalidades olímpicas temos cerca de 400 mil inscritos nas respectivas federações desportivas nacionais (últimos dados oficiais referentes a 2014), o que representa um número ridículo, impeditivo de competições internas de elevado nível, quando comparado com outros países europeus e que está longe das potencialidades de um país com 10 milhões de habitantes.

O Desporto em Portugal assenta num sistema caduco, desorganizado, sem objectivos e sem estratégia, com uma mistela de conceitos confusos e pouco clarificadores onde abundam as frases feitas do Desporto para Todos - e o Desporto não é para todos: é para quem pode e, dentro destes, para quem quer - e de que o Desporto dá Saúde - o Desporto é para quem tem saúde - confundido uma actividade de exigência, superação e responsabilidade de resultados com Actividade Física, essa sim, para todos, adaptável ás necessidades e que se pretende praticável para uma vida inteira. Curiosamente a actual Lei de Bases (Lei 5/2007 ) é designada por Lei de Bases da Actividade Física e do Desporto, designação que não parece preocupar ou induzir seja quem for.

Com um Desporto Escolar que não produz efeitos visíveis - Andebol, Basquetebol e Voleibol estão inseridos no sistema escolar desde os anos 30 do século passado e nunca se qualificaram para os Jogos - quer na detecção de talentos, quer no aumento de inscrições federadas e que desde há muito deveria ter passado para o estádio de Desporto em Idade Escolar articulado com clubes locais e federações de utilidade pública desportiva. Com um objectivo claro: introdução dos modelos desportivos das várias modalidades e detecção de talentos com o devido encaminhamento.

Não há dinheiro disponível para financiar as necessidades desportivas diz o Governo através do seu Secretário de Estado (RTP Notícias, 18/Ago/2016). Mas muitas das mudanças necessárias que permitirão adaptar o desporto português às necessidades competitivas actuais, não custam dinheiro. Exigem apenas transformações. De conceitos, de mentalidades, de estruturas.

Desde logo estabelecendo como Missão das federações de utilidade pública desportiva a criação de condições para que os nossos atletas possam competir internacionalmente em termos de igualdade, nomeando a sua dimensão rendimento como prioritária para assim lhes exigir programas qualificados - e não numéricos - de formação e desenvolvimento, com índices de competitividade elevados e afastando-as das tentações das imensas exigências que se lhes pretende sempre colocar para iluminar fogachos políticos. Também sem custos será a revisão das actuais leis federativas, retirando a mesma medida de fato a corpos com dimensões diferentes e adequando-as e articulando-as, de acordo com as nossas especificidades, com as necessidades do confronto internacional - a definição oficial e legal das modalidades colectivas e individuais (a Canoagem é, legalmente, uma modalidade individual!) é, no mínimo, inaceitável e umas e outras não podem reger-se pelas mesmas regras. O mesmo se dirá com o sistema escolar dos atletas que, apesar de um quadro legal facilitador, só enfrentam dificuldades e abusos quer da dupla actividade, quer na forma como são escolarmente tratados. A revisão do actual sistema de formação de treinadores exige também uma radical e urgente transformação sob pena de diminuição do seu número e da sua qualidade. O próprio estatuto do Alto Rendimento necessita de transformação e adequação, ampliando-se, às exigências actuais.

Para que as exigências por melhores resultados possam ter razão de ser - os obtidos no Rio 2016 se são bastante bons dentro do sistema que condiciona o Desporto português, não podem ser meta - é absolutamente necessário proceder às transformações que o enquadramento internacional nos exige. Começando por estabelecer os objectivos pretendidos e construindo uma estratégia adequada. No quadro do Desporto de Rendimento.

João Paulo Bessa
(Texto publicado no jornal Público de 8 de Setembro de 2016)

MEDALHA DE MÉRITO DESPORTIVO

A Câmara Municipal de Lisboa decidiu, em reunião pública de 28 de Setembro, atribuir-me a Medalha Municipal de Mérito Desportivo. O Vereador do Desporto, Jorge Máximo, colocou no seu facebook a justificação que copio:

"Foram hoje aprovadas, por unanimidade, as propostas de atribuição da Medalha Municipal de Mérito Desportivo a 4 grandes referências do desporto em Lisboa e Portugal:

a) Carla Couto - reconhecida como a Jogadora do Século pela FPF.

b) Aurélio Pereira - um dos mais bem sucedidos captador e formador de talentos desportivos do nosso país.

c) João Paulo Bessa - ex-selecionador e um dos grandes nomes do Rugby e do planeamento e arquitectura de infraestruturas desportivas em Portugal.

d) Luis Almeida dos Santos - um dos mais consagrados e internacionalmente reconhecidos nomes portugueses no Andebol e no dirigismo desportivo.

Enquanto vereador do desporto do município de Lisboa, o meu sincero agradecimento aos agraciados pelo enorme e importante legado em prol do desporto que muito honram e prestigiam a nossa cidade.

#desportolisboa"

Aproveito desde já para manifestar a minha satisfação e o meu agradecimento que, naturalmente, terei oportunidade de renovar na cerimónia de atribuição.

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