quarta-feira, 30 de novembro de 2011

A História com memória

O rebuscar displicente do sr. João Duque do salazarento "A Bem da Nação", incomodou-me. Menos talvez do que a votação idiota de melhor português, mas incomodou. Pior, irritou-me o ar doutoral da ignorância da História transformada em brejeira e descontextualizada provocação. E reciei, como ainda receio, a sequência no desplante de "tudo pela Nação, nada contra a Nação."

Valeu-me, no mesmo sítio - SIC - e logo de seguida a tê-lo visto, ligeiro, a analisar as dificuldades dos outros neste país de fossos abissais entre uns e outros, ter assistido à entrevista de Mário Soares. Um filme da história, uma lição de convicções, um cofre de memórias. Uma lição de republicanismo, de democracia, de valores humanistas e de direito democrático. De socialismo democrático. Aqui sim, a História na sua grandeza: republicana, laica e socialista.

Com a entrevista por fundo revisitei momentos inesquecíveis da participação que tive no MASP da sua primeira campanha presidencial e que o tornou no primeiro Presidente da Républica civil depois do 25 de Abril. Lembro-me, no dia da sua tomada de posse e ao vê-lo, das escadas de S.Bento, despreocupado do "passo certo" enquanto passava revista às tropas, de ter pensado: nunca mais teremos um Presidente militar. Era o princípio de uma outra República.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Diferença que distingue

Gosto de Futebol e, por sorte, já vi grandes jogos em grandes estádios europeus e segui muitos mais. Um deles, com muita pena, que não vi - guardo, para não esquecer a vitória e numa qualquer gaveta cá de casa, o bilhete do meu pai - foi o Benfica-Real Madrid de Amsterdam da final da Taça dos Campeões Europeus.

Mas não fui ao Benfica-Sporting. Porque não gosto do estúpido clima de guerra que destrói um jogo e tenho dificuldade em participar na jiga-joga de escoltas, demoras, incómodos. E conivência. Apesar de gostar que a minha equipa ganhe, pertenço ao mundo do rugby que se viu no último Mundial - camisolas diferentes a admirar a qualidade de uns e outros.

Sobre esta matéria, dos desacatos, das claques, da falta de cultura cívica, poderia falar, até do que penso sobre os mais diversos aspectos que mantêm o estado das coisas inalterável. Por razões que me parecem óbvias não farei os comentários que me apeteceriam. Mas deixo nota.

O Desporto tem a particularidade de exigir a suspensão - durante um período de tempo previamente conhecido - das regras que nos regem o quotidiano para as substituir por outras prévia e comummente acordadas e reconhecidas. Ou seja: aqueles que se encontram no espaço do campo desportivo tem como regimento um outro corpo de regras e comportamentos sem que isso envolva considerações cívicas negativas ou reprováveis.

Mas tudo isto termina no espaço limitado pelas linhas do campo desportivo e no tempo pré-determinado. Para os espectadores, claques ou não, a suspensão que o jogo desportivo exige não existe. Continuam sujeitos às regras, aos direitos e deveres. Às leis que regem o país democrático que somos.

E esta diferença - que parece ser muito difícil de perceber - faz a diferença.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Encontros Imaginários

Há dias fui a A Barraca ver um dos Encontros Imaginários do Helder Costa. Juntava á volta da sua mesa o Zé do Telhado - peça para a qual, há anos, desenhei o cartaz que deixo aqui - o Swift que inventou o Gulliver e o Maomé que acabou por ser dado como inventor destas estórias de ódio religioso.

Os diálogos são notáveis, a articulação - os pontos comuns encontrados pelo Helder - entre diferentes personagens de tempos distantes da História é inteligentemente contada. Vale a pena ir ao bar de A Barraca no Cinearte de Santos na primeira e terceira segundas-feiras e cada mês.

Com a nota que o Hélder me deixou não podia deixar de estar presente. E o Zé do Telhado, reconhecendo-me - em tempos teve que posar para mim a entrar pela janela - veio, simpaticamente, dar-me um colar de ouro. Roubado a uma Viscondessa, pareceu-me ouvi-lo dizer.

No Encontro tudo se passa com o á-vontade de quem parece conhecer-se há muito tempo - como se a pertença à História lhes desse um espaço comum que partilham há séculos.

De Helder Costa já conhecíamos o interesse sobre a História - aqueles "diálogos históricos" na televisão foram a demonstração pública desse interesse. Mas estes Encontros são melhores. Mais inteligentes, mais interessantes, mais dinâmicos. E com uma demonstração de cultura superior. Muito bom. A exigir presença e que, embora a dimensão esteja adequada à situação ao vivo, os diversos Encontros possam ser mostrados de novo com outra dimensão - a da televisão.  

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Só agora?

Li nos jornais: Angela Merkel vê perigos na crise para a Alemanha (in Público).

A sério?! a srª Merkel está preocupada com a crise que atravessa a Europa?! lembrou-se agora que é a malta dos preguiçosos, incapazes e etc. que lhes compra a maquinaria, os automóveis e os etc.?

Quer dizer: a srª Merkel ignora agora a superioridadezinha a que gosta de se dar ares, percebendo a relação entre as coisas que faz por entender como distintas? Ou está só a teatralizar a reposição de velha peça, fazendo de conta que não tem nada para contar, pagar ou justificar?!

Será que o fogo está a pegar-lhe na barra da saia?

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Há caminho nos caminhos?

Dois documentos diferentes - um painel colocado numa rua em qualquer parte da Alemanha e uma entrevista televisiva de Gerard Celenta, director do Instituto Trend - apresentam um ponto comum: ambos mostram preocupações com os bancos.

Três pontos a reter: a preocupação Merkel/Sarkozi pelo salvamento da pele dos seus bancos e a definição de facismo ou a desmistificação do crescimento motu continuo de Celenta .


E nós por cá? De que lado estamos? Do lado da preocupação bancária? do lado das pessoas? Temos estratégia ou navegamos ao sabor da costa? Temos perspectiva ou os sacrifícios que fazemos não servirão para coisa alguma?

Pé de página
 [Os líderes europeus aceitam o estado das coisas como, nos anos 30, aceitaram o nazismo(...). Com as democracias confiscadas por Berlim, ele aí está, outra vez, à solta.]
Inês Sá Lopes, i

As últimas da Nina

Terminado o Campeonato do Mundo de Rugby - ganhou a Nova Zelândia - o mundo deixou de andar de pernas para o ar e os horários voltaram à normalidade. Sem as doses maciças de jogos a desoras - um jogo em directo vê-se por paixão, um jogo em diferido vê-se como ciência.

Levou algum tempo a recuperar hábitos mas agora a vida caseira parece a normal de sempre.

Normal é uma maneira de dizer porque com a total recuperação da resiliente Nina agora é a casa que anda de pernas para o ar. Estupenda depois da notável luta pela sobrevivência a Nina não pára. Mete-se com o Percy e o Knight como se eles fossem irmãos de ninhada - passa por eles, provoca-os, salta-lhes por cima, dá-lhes ligeiras palmadas, mordidelas, desafia-os para corridas. Enfim, brinca, luta, salta, rouba-lhes comida. E eles com uma paciência de santo vão-na deixando...com um ou outro bufo para garantir o respeito.

A Nina é uma agitada permanente - se os apanha a dormir não descansa sem que os acorde - e tem uma agilidade extraordinária - consegue, em saltos consecutivos e com enorme facilidade, agarrar com as duas mãos as pontas dos fios dos estores que pairam - medi, claro - a 94 cm do chão. E é também muito inteligente: nas lutas terríveis que faz com as palhinhas que transforma em inimigo preferido e sempre que escapam por baixo de qualquer porta sabe ir à volta para continuar a batalha. E está com um pelo lindo.

Quer um, quer outro - o Percy e o Knight - tiveram que desistir de alguns dos seus lugares preferidos porque a Nina não descansou enquanto não os ocupou. Mas curiosamente, agora!, raras vezes se zangam. Devem ter chegado à conclusão que a melhor táctica, para melhor sossego, era a de cederem terreno.

Parece evidente que a Nina vai ficar cá por casa - situação que se tornava cada vez mais clara à medida da luta pela sobrevivência que vivemos com ela... mas mantemos a esperança que ela desista das correrias madrugada fora.

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