terça-feira, 31 de maio de 2011

Hermanos?!

"Espanha é um país historicamente frustrado. Teve reis incapazes, aristocratas corruptos e bispos fanáticos. E hoje a classe política herdou tudo isso. É analfabeta, medíocre e qualquer visão de futuro que se atreva a ter está sempre condicionada pelas eleições legislativas. Conseguiram acabar com o estado que levou 500 anos a construir. Quando falo com jovens do meu país e me pedem conselhos sobre o futuro, só lhes consigo dar duas hipóteses de escolha: ou aprendem inglês para que possam sair de Espanha ou aprendem a fazer um cocktail molotov.”
Arturo Pérez-Reverte, escritor espanhol
Hermanos?! sim, da ponta da Ibéria, mas com queixo menos levantado e sangue menos quente - ficamos pelo inglês.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Da Esquerda e da Direita

Classicamente a esquerda e a direita definiam-se assim pela posição ocupada nos parlamentos: uns à esquerda, outros à direita da mesa da presidência. Hoje fala-se da não existência de diferenças entre uma e outra: como se tivessem deixado de existir os valores e os princípios que demarcam uma da outra. Há uma esquerda e uma direita que se distinguem claramente – por outros processos e não pelos meios clássicos.

Porque aqui, como noutros aspectos, o mundo mudou mas os valores e princípios mantêm-se – embora nem sempre com a formalização habitual. Menos ainda, como pretendem impingir alguns arautos da liberalização, pela pretensão de uns e outros se definirem pela vontade de manter ou mudar seja o que for.

Tendo isto presente, recusando a linearidade da análise direita-esquerda, o meu amigo Vasco Coucello resolveu considerar outras dimensões para posicionar a esquerda e a direita: a dimensão “económico-social” e a dimensão “sócio-cultural”.

O resultado da análise traduz-se no posicionamento dos cinco principais partidos segundo dois eixos cartesianos. O que não deixa de se revelar curioso, bom motivo de análise e revelador de alguns discursos.

Vasco Coucello

O posicionamento encontrado tem este resultado:
 No quadrante da direita, o PSD (cada vez mais liberal) e o CDS
 No quadrante da esquerda, o PS e o BE
 No quadrante misto, o PC (justificado, entre outra coisas, pelo exemplo autoritarismo interno)
Resultando daqui – de acordo com o autor – quatro conclusões:

1. O partido mais próximo do PS é o BE;
2. O partido mais distante do PS é o PSD;
3. A distância do PS ao PC é parecida com a distância do PS ao CDS;
4. O partido mais próximo do PC é o PSD.
E é também possível retirar uma outra conclusão: a utilização da denominação social-democrata pelo PSD não representa mais do que um hábito. O PSD é, como aliás indica a sua ligação europeia, um partido liberal com – como se reconhece na denominação da história política europeia – largas afinidades de valores e referências de direita.

Mais um dado para se perceber o sentido que faz a opção de voto das próximas eleições.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Urráááá!!!!

Foi finalmente preso Ratko Mladic
General acusado pelo Tribunal Penal Internacional para a ex-Jugoslávia de genocídio e crimes contra a Humanidade

terça-feira, 24 de maio de 2011

Campanha Eleitoral

Uma campanha eleitoral não é uma guerra nem tão pouco fará de adversários inimigos. Mas os seus fundamentos estratégicos, aplicam-se. Como é o caso:

"Numa guerra não perceber quem é o verdadeiro inimigo, pode ser fatal."
Tropa de Elite 2
Também não é mau lembrar que:

"A eficácia depende da experiência que se viveu em casos semelhantes"
Malcolm Gladwell, Blink
Nesta vivência de mais interesses que soluções capazes para resolver o problema dos portugueses lembro, como mote de referência, a visão camoniana da adaptação do Fausto e Sérgio Godinho para a Chula cantada por Shila:

"Para melhor está bem, está bem, para pior já basta assim"
Com as três presentes, a opção do voto é óbvia

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Cultura Desportiva

Em Manchester contra o campeão United, o Blackpool jogava a sua sobrevivência na Premier League inglêsa. No Jamor o Vitória de Guimarães tentava vencer o maior favoritismo do F.C. do Porto. Em ambos os lados a casa estava meia cheia com os adeptos da esperança. No final do jogo, perderam ambos: o Blackpool volta para a segunda divisão do futebol inglês e o Vitória ficou-se como finalista.

Os adeptos vitorianos começaram a sair a vinte minutos do fim do jogo e deixaram a sua equipa sozinha - nem lhe agradecendo a excelente carreira na Taça; os adeptos do Blackpool despediram-se da equipa, entoando os seus cânticos e aplaudindo de pé os jogadores das sua equipa preferida e agradecendo-lhes a digna entrega e o respeito pelos valores que a camisola simboliza.

Culturas...

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Valores Europeus

"Os grandes valores europeus - como a unidade e a solidariedade - estão, como dizemos, nas ruas da amargura."
Mário Soares, Maio 2011

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Armadilhas de calçada

Da poupança...
Nestes dois dias pude aperceber-me que não estava sozinho no entendimento que a dita calçada à portuguesa é um estúpido anacronismo nas ruas da cidade do sobe e desce das sete colinas. Principalmente à medida que foi fugindo a possibilidade de pagar trabalho capaz. Hoje, a calçada tem intervalos enormes por onde cresce relva, foge a areia, desequilibram-se as pedras, tropeçam as pessoas. E não devem ser tão poucas como isso.

A Comissão de Boas Práticas do Município de Lisboa recomendou a substituição da calçada à portuguesa especialmente nas zonas de grande declive – quem conhece a Venceslau de Morais sabe que aquilo só para treino de skate… – ou de grande uso. O Presidente da Câmara, António Costa, já despachou – em Março – concordando que o uso da calçada em novos projectos “deve ser muito selectivo”. É um passo.

Bem desenhada nos claro-escuros a calçada à portuguesa pode ser bonita e interessante… em espaços planos e se bem realizada, sem poupanças idiotas que lhes retiram o apoio e abrem brechas. Como em tudo na vida, quando não há dinheiro, não há vícios. E calçada à portuguesa ou é como manda a regra – pedra pequena,  bem acertada, com olho e tempo, com boa cama e bom corte, sem intervalos e em terreno plano – ou não passa de uma armadilha para quem procura a segurança de um passeio.

[a Ana já foi operada, está no recobro e tudo correu bem]

quarta-feira, 11 de maio de 2011

A traição da calçada à Portuguesa

Em meados do século XIX, o tenente-general Eusébio Furtado mandava – para lhes dar que fazer – os seus prisioneiros tratarem de empedrar a parada de Caçadores 5 junto ao Castelo de S. Jorge. Acreditando regenerar uns quantos – numa moda que pegaria em Lisboa – atraía outros pela novidade. Nascia assim, ao que parece, a calçada portuguesa: empedrado de pedra branca e preta – calcário e basalto - a desenharem contornos, geometrias, formas.

O custo, a falta de artistas, terá deixado para trás o desenho e alagou, com a postura municipal de 1895, os passeios da cidade de pavimentos de vidraço miúdo colocado irregularmente – assente “à sorte” como manda a regra – e a dar, como gostam de dizer os seus defensores, continuidade aos passeios. Em branco e com altos e baixos, claro.

Escorregadio, irregular e incomodamente reflector – transportando luz e calor para onde não devia – o vidraço contrapõe-se ao passeio que o passeio deveria ser. Mas há esta ignorância da tradição fundamentada na certeza néscia que está cá pelo menos desde uma qualquer partida de caravela, mar abaixo, a deixar o cata-que-farás a perder de vista e que empedrou a cidade. Pasmando turistas, gostámos de acreditar.

Pois…

A Ana fracturou, faz hoje três anos e numa escorregadela habitual nesta calçada, um tornozelo a obrigar a operação de largos parafusos que fazem tocar qualquer sistema de aeroporto. Três anos depois e neste mesmo dia, numa dessas correntes e traiçoeiras inclinações, irregularidades ou ressaltos, voltou a escorregar, caiu e fracturou um cotovelo. Vai ser operada na quinta-feira.

Não se pode exterminá-la?... à calçada claro!

terça-feira, 10 de maio de 2011

Mal Contado

Há algo nisto que não bate certo, algo mal contado.

De um lado, dizem-nos: três – o que é uma conta que merece reflexão – das vossas universidades de gestão estão, segundo o Financial Times, entre as 65 melhores do mundo na formação para executivos.

Do outro, a “Europa” e o FMI dão-nos um pontapé nas costas por total incompetência na gestão do país.

Qualquer coisa está mal contada…

- ou a classificação do Financial Times é inversa das agências de rating e ambas não valem ponta de chavelho;
- ou aquilo de que falam as universidades não interessa a ninguém;
- ou ninguém quer saber do que dizem os executivos universitários;
- ou, na prática a teoria é outra;
- ou ainda e mais certo, mais certo é que nada por cá foi tão mau assim - pese o que pese - e a nossa vulnerabilidade, dando o flanco, permitiu o ataque desenfreado dos especuladores numa demonstração de coisa que já se sabia: a mãozinha invisível - nas suas mais variadas formas - tende a ir ao bolso dos muitos que valem pouco para garantir o interesse dos poucos que valem muito.
Mas vulnerabilidade maior foi não termos amigos com que contar.

domingo, 8 de maio de 2011

Para Finlandês aprender

Geração CCascais

quinta-feira, 5 de maio de 2011

O raio do andar

Dei uma boa gargalhada quando li. Os meus amigos perceberão porque continuo a sorrir quando me lembro da estória e o gozo que me dá este gozo ao exercício a todo o custo em nome de um bem estar todo poderoso – melhor que isto só Churchill a declarar que estava assim porque nunca, mas nunca na vida, tinha feito essa coisa a que vocês chamam desporto.

A autoria é da americana Ellen DeGeneres  e retirei-a do Público.
"A minha avó começou a andar oito quilómetros por dia aos 60 anos. Agora tem 97 e não sabemos onde raios está."
Claramente a energia tem caminhos inimagináveis...

Reabilitação e Recuperação Urbanas

"Há duas questões: a primeira é que os projectos não são bem feitos, fazem tábua rasa do interior, as fachadas são diferentes e, por dentro, é como se fosse um prédio; a segunda é que, quando se reabilita, tem de se reabilitar o mais próximo possível do existente. É caríssimo fazer caixilhos de madeira? então, não se reabilita."
Eduardo Souto Moura in Vida Económica, 29/4/2011
A Reabilitação Urbana, apesar de algum convencimento do contrário, não é mezinha para todo o mal das cidades contemporâneas. A Reabilitação Urbana exige decisão sustentada – o que se deve reabilitar? o que vale a pena reabilitar? - suportada por um programa – que defina objectivos conceptuais e de uso futuro e ainda os propósitos das condições económico-financeiras que o viabilizam - e inserida numa estratégia - qual o caminho a seguir para atingir os objectivos pretendidos? - e liberta de modas ou nostalgias – as melhores promotoras do pitoresco tão ao gosto do Príncipe Carlos. Não se reabilita porque está ali há muito ou porque se privilegia a tradição ou porque parece bem tratar do que é velho; reabilitam-se edifícios, conjuntos, sítios ou lugares porque a memória que transportam tem valor cultural suficiente para proporcionar uma melhor compreensão do mundo em que vivemos e uma melhoria da nossa qualidade de vida. Mas pode-se Recuperar sem tanta atenção: apenas porque a envolvência exige aproximação linguística sem necessidade absoluta do cumprimento das regras gramaticais, ou porque os volumes, a composição, a forma, proporcionam interessantes pontos de vista ou potenciam agradáveis articulações de espaços.

Foto de João Chicarra
Escola de Hotelaria e Turismo de Portalegre
projecto de Eduardo Souto Moura
Na revista italiana, Casabella, o crítico Francesco Dal Co a propósito da intervenção de Souto Moura realizada para a Escola de Hotelaria e Turismo de Portalegre, escreveu tratar-se de "uma intervenção exemplar de recuperação. O confronto com o passado sem remorso ou nostalgia."

E se a libertação das tentações nostálgicas deve, pela atenção que exigirá e qualidade que emprestará, ser comum a ambas, fica explicado a quem mais possa interessar: reabilitar não é recuperar, uma e outra acção têm objectivos diferentes e partem de pressupostos distintos. E se ambas podem prestar excelente serviço à melhoria da nossa qualidade de vida, cada uma tem o seu espaço próprio de intervenção. É isso que explica – e faz – Souto Moura.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Vítimas do terrorismo

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Lembranças dos Cravos

Na segunda-feira passada coloquei um post que falava do 25 de Abril de há 37 anos - escrevi sobre o que me lembrava. À procura de fotografias - queria encontrar uma que tirei ao Zeca em A Barraca durante os ensaios do Zé do Telhado - acabei por encontrar este texto sobre o 25 de Abril (falando do mesmo mas de forma mais completa) que escrevi para oferecer aos meus amigos no 25º aniversário da Revolução. Porque trata da memória de uma semana épica - no final da qual a certeza que não havia volta atrás começava a ganhar dimensão real - achei que podia colocá-la no fecho de uma memória inesquecível, trinta e sete anos depois. Aqui fica, como então a escrevi. 

Lembranças dos Cravos

O telefone tocou às 4 da manhã. Por sorte nem sequer tive pensamentos de susto do tipo morreu alguém! Pensei de imediato que só podia ser o Dário , grosso em qualquer barra de balcão, a lembrar-se dos meus anos (a minha Mãe jura que nasci precisamente a essa hora). Não era, era a Maria João com o habitual sossego na voz:

— É agora. Ou vai ou racha. Liga o Rádio Clube Português. São de que lado? perguntei, a pensar no 16 de Março e com medo do medo dos acossados:

— Dos nossos, sossegou-me. Liga o Rádio Clube. Passa palavra.

Passei. Liguei ao meu Pai, ao Dário, ao Xico Sequeira , a quem me lembrei. E liguei o rádio e a televisão e fiquei à escuta as horas que foram precisas para ouvir: aqui Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas, etc. e tal. A coisa compunha-se e percebia-se que eram contra. Do reviralho, pensei lembrando-me como considerávamos, a Graça e eu nos tempos de Soutelo, o Salgado Zenha — um gajo do reviralho.

À hora do costume a Fátima queria sair com o Raul, levá-lo para a creche e seguir para o trabalho. Não foi fácil convencê-la que havia uma revolução na rua e que as faltas injustificadas — era esse o medo de funcionária — não iriam acontecer nunca. Aqui, próximo do Jardim das Amoreiras, neste quarteirão interior a tudo não se passava nada. O senhor Costa tinha aberto como de costume e não fazia a mínima ideia do que pudesse estar a acontecer. Quinhentos metros acima, na Sampaio Pina , viam-se soldados armados. Na Artilharia Um, no passeio central a ver o fundo da rua que do muro do Hospital ou da Manutenção não viria grande mal ao mundo, três ou quatro soldados vigiavam (de metralhadora?).

Em casa a televisão começou a dar, havia mais telefonemas. O Xico apareceu a dizer que ia para o Carmo — tinha ouvido estar lá o Marcelo e os outros. Que sim, que fosse, que o procuraria mais tarde porque iria tentar saber o estado das coisas. Devo ter tentado mais alguns telefonemas e segui até ao Carmo: quase que juro ter ouvido a saraivada que marcou o muro do quartel, embora a remembrança distante já não distinga, com exactidão, o presenciado do ouvido. Mas aposto que nos encontramos — o Dario, o Salvador, o Calixto , o Xico, talvez o Pedro , eventualmente o Samuel — na tasca do galego para beber o branco do costume mas de forma pouco habitual. Rija festa de anos!

Na manhã seguinte, terá sido?, passei na Multiplano . Ainda eram tempos de expectativa. De muita expectativa — e as colónias? e a independência? e os partidos? e os presos políticos? que pensava o MFA de tudo isso? E o emproado do monóculo?

1º de Maio (1978?)
Decidimos ir para Caxias. Era já um ror de gente. Uns — aqueles que ao longo de anos se tinham treinado nisso — gesticulavam à vista, longínqua, das janelas das celas. Enviavam mensagens, avisavam do que se passava e faziam-se entender. Durante horas iam e vinham as mais diversas informações: que iam já sair! que não, que só sairiam aqueles que não-sei-o-quê! que nem pensar, que ou todos ou nenhuns! como se alguém tivesse formado um enorme cordão de passa palavra. E, mais perto ou mais longe do portão, sabia-se o mesmo. Aguentar era a palavra de ordem. Tenho uma vaga lembrança de só de lá ter saído de noite à boleia não sei de quem e depois da libertação dos presos políticos. Se calhar cruzei-me, sem saber, com os pides a caminho da troca. Estava frio e só tinha uma camisa vestida.

O tempo já não tinha a mesma dimensão dos dias que tinha conhecido. Era tanto e tão rápido que cada dia tinha centenas de horas ou a semana centenas de dias. Entre aqui e ali, mais televisão, mais rádio, mais jornais, mais conversa, mais discussão, os momentos passavam à velocidade do pensamento. Estávamos a fazer uma Revolução! Com cravos, quase sem tiros, quase — que espantoso — sem gente do outro lado. Era tudo do contra nas ruas daquele tempo cheias de gente.

1º de Maio (1978?) - Cinema Império
Em todo o lado havia gente, muita gente, gente já sem medo. O país inteiro, como se mais nada houvesse a fazer, armou-se de uma missão: mudar o suficiente para que o tempo não voltasse atrás.

Ia-se aqui, ia-se ali, onde estivesse a acontecer o que quer que fosse. Era uma correria à procura de tudo que se passava ao mesmo tempo. Com o Pedro Lencastre e à custa do seu conhecimento dum fuzileiro, entrámos — já depois da rendição dos pides — no “perímetro de segurança” da António Maria Cardoso onde vi — lembro-me sempre com espanto — um “especialista” puxar de um corta-unhas e, com a lima e gesto simples, abrir as portas de um suspeito Porsche para encontrar um manancial de matracas, boxes e quejandos.

Das memórias abre-se uma branca: não tenho a mínima ideia de comer ou de onde o tenha feito — vivíamos da sande com certeza. E das cervejas e do branco do galego. Mas não havia tempo para parar, ele era o Soares e o Cunhal a chegarem, a malta de Paris ainda desconfiada, era a televisão a dar de tudo, os da Junta a dizerem ao que estavam, os “capitães” a dizerem do deles, o Posto de Comando a pedir para ficarmos em casa e a malta moita! rua com ela numa anarqueirada louca, linda de morrer, naquela forma de ser, por dias, poder absoluto à moda de cada um.

Ia jogar em Praga, pela selecção portuguesa de rugby, a 27, contra a Checoslováquia. Deixaram-me recado em casa a dizer que não compareceríamos ao jogo porque o aeroporto estava fechado. Nem me preocupei mas ainda guardo a camisola.

A 30 de Abril não me levantei mais, fiquei de cama — paga do peitinho feito a correr pela cidade — com um febrão dos antigos.

Vi o Primeiro de Maio pela televisão com olhos remelentos de febre. Vi aquela gente toda a levar horas a passar e, então, percebi: já nada fará isto voltar atrás.

Hoje, vinte e cinco anos de memória traiçoeira que armadilhou a lembrança ao colocar-nos em todo o lado ao mesmo tempo, há apenas, dessa altura, uma certeza que tenho: que a brasa daqueles anos, aquele tudo viver num só instante, já ninguém me tirará.

De hoje, dos nossos dias, tenho outra: o sentimento de que no meu país as condições e qualidade de vida são inegavelmente muito melhores do que alguma vez foram.

Lisboa, 25 de Abril de 1999

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