quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Há Pavilhões a Mais?

Na enorme barafunda em que se tornou a minha secretária – jornais antigos, notas, páginas de textos emendadas, livros, fichas e sei lá mais o quê (fora gatos a passear ou a procurar o teclado para dormir e marcar linhas e linhas com o mesmo símbolo) – não sei o que fiz a um recorte há tempos publicado no Público por Francisco Jaime Quesado, gestor do Programa Operacional Sociedade do Conhecimento, e titulado como “QREN: divergir para convergir” e onde – num interessante artigo em que dava conta da mudança estratégica que visiona para a continuidade assertiva deste pacote de fundos comunitários – chamava a atenção, referindo-se ao balanço dos 20 anos de Fundos Comunitários em Portugal e a propósito de uma lógica não raras vezes pouco coordenada e monitorizada, para a proliferação desnecessária (...) de pavilhões desportivos municipais.

Pese a simpatia, não é assim. E só por não ser, levanto o tema tanto tempo decorrido.


Não existem pavilhões desportivos a mais ou desnecessários em Portugal. Basta fazer contas: recomenda o Conselho da Europa o parâmetro de 0,15m2/habitante para pavilhões e salas desportivas na composição da dotação global de 4m2/habitante de equipamentos desportivos de base – isto é daqueles não especializados ou destinados ao espectáculo desportivo. Se este valor for multiplicado pela população portuguesa, ver-se-á que a totalidade dos pavilhões existentes não cumprirá o standard desejado para a prática físico-desportiva de uma população como a nossa.

Para exemplo serve que, quando da candidatura de Jorge Sampaio à Câmara de Lisboa, contas feitas com base nestes elementos do Conselho da Europa diziam que faltava à capital uma área de equipamentos desportivos de base equivalente a 90 Terreiros do Paço. Tendo em conta tratar-se do atraso da capital – e sabendo do enorme atraso recebido em todo o país – e mesmo sabendo das melhorias conseguidas, podemos afirmar estar-se ainda longe de atingir os valores internacionalmente recomendados.

O problema, nesta matéria, é outro. É o da iliteracia desportiva. O que traduz, algumas vezes, a construção de exageros sem nexo de equipamentos desportivos. Porque assim o dita o dirigente político municipal e assim o apoia a população – porque não sabem e julgam que as transmissões televisivas que vêem são a realidade que precisam; ou porque, se o vizinho tem, não há como ficar atrás. Enfim, exageros de quem não sabe e tem do desporto uma experiência nula – a que, aliás, nada ajuda a inexistência de uma estratégia de desenvolvimento desportivo clara e sustentada no ambiente escolar.

Durante o tempo do III Quadro em que coordenei a Medida Desporto – anteriormente não existiam quaisquer financiamentos directamente destinados às infra-estruturas desportivas - foi feito um grande esforço para evitar o exagero despesista, introduzindo conceitos de polivalência espacial que permitem a utilização permanente dos espaços para diferentes práticas desportivas, mas permitindo também o recurso, nas ocasiões necessárias, à colocação (amovível) de bancadas. Fazendo, no fundo, da mesma forma com que montamos as feiras anuais – quando é preciso, amplia-se. Mas deixando sempre o espaço utilizável para o que é, neste caso dos pavilhões, importante: a prática desportiva. E há bons resultados nessa matéria nos 39 pavilhões e 42 salas desportivas comparticipados pela Medida Desporto. Que espero possam servir como exemplo para a construção de outros novos que venham a surgir.

Pavilhões desportivos municipais que permitam uma prática desportiva sustentada e uma actividade física permanente não existem em demasia. Exageros de pavilhões que ultrapassam as necessidades, há-os – mas não tantos quanto se faz crer. Seja como for, ainda falta um bom número de pavilhões para garantir o equilíbrio territorial para um acesso generalizado que possibilite a igualdade de oportunidades desportivas aos portugueses.

sábado, 26 de dezembro de 2009

Naturalizados

Volto a citar Eduardo Lourenço: "O nascer num sítio não é destino, é uma contingência.". Contingência que, de acordo entre partes, qualquer um pode alterar. Da naturalização, com excepção da candidatura a Presidente da República, resultam direitos de cidadania idênticos a qualquer cidadão português de nascimento. Segundo a comunicação social, José Mourinho, treinador de futebol, afirmou: "Se algum dia for seleccionador, direi não aos naturalizados". Como tal posição violará direitos de cidadania constitucionalmente estabelecidos, José Mourinho não poderá ser seleccionador nacional. Tão simples quanto isto!

A propósito: uma Selecção Nacional só existe se integrada numa Federação Desportiva detentora do estatuto de Utilidade Pública Desportiva. Que com esse estatuto e sendo assim a federação oficial da modalidade, passa a deter um conjunto de direitos e obrigações, entre os quais os direitos desportivos de organização das selecções nacionais, campeonatos nacionais e atribuição de títulos de campeões nacionais.

Feriados

Os senhores empresários (suponho - espero - que sejam só alguns) querem diminuir o número anual de feriados. Já nem falo no contra-senso que, em época de crise e face à escassez de trabalho e elevado número de desempregados, a ideia representa. Diminuir o número de feriados como desculpa necessária ao aumento da produtividade é tão estúpido como aumentar as balizas de futebol para conseguir mais golos. Ou o mar, para que haja mais peixe. E que tal olhar para as questões essenciais que não deixam aumentar a produtividade - procura de novos mercados, adequação dos produtos ao mercado, definir a estratégia para a criação de valor, melhor preparação de empresários, formação para empregados, controlo de custos e despesas, etc. etc. Enfim, gestão empresarial à séria. Seria melhor começo de 2010...

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009


quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Pontapé na memória

O edifício da Praça da Alegria ardeu e a cave do Hot afogou-se em água. Agora falta saber das hipóteses de recuperação do edifício. Seja como for, a cave, a velha cave das imensas memórias de gerações, foi-se. Fui lá director anos seguidos com o Paulo Gil, José Soares, Dário Romani, Chico Almeida, José Duarte e outros que maldosamente a memória não garante. Foi lá que aprendi (?) a ser barista. Que conheci o Villas. Foi lá que passei noites infernais. Memoráveis. De Tete Montoliu a Charlie Haden com Carlos Paredes e Fernando Alvim (foto), passando por Marcos Resende, Pots e centenas de outros em jam’s de desbundas imparáveis de que, de certeza, guardo papeis e fotografias em algum sítio da casa. Foi dali que, noites a fio, saí para a manhã já levantada. É dali que mantenho lembranças inesquecíveis: de amigos e amigas, de músicas, de músicos, de swings, de sons, de JAZZ.
Em tempo: e daqueles que a memória não me garantiu na mistura das emoções - as voltas, mais a frio, acabam sempre por lá chegar - não quero esquecer o Zé Eduardo, músico, contrabaixista, e a primeira Escola do Hot que foi lançada quando da nossa direcção e que ele teve a enorme e bem sucedida tarefa de dirigir.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Comprar sonhos

A minha amiga Irene Pimentel (essa mesmo, a Prémio Pessoa) acenou-me, dizendo: "Tenho que ir comprar sonhos."
Estou com ela. Não sei aonde ir mas deve ser a única forma de aguentar o estado das coisas... Vou procurar.

Uma coisa repelente

"Eu odeio racismo. Racismo é um sintoma do atraso da humanidade, uma coisa repelente, uma perda de tempo grotesca."
João Ubaldo Ribeiro (1941-), escritor brasileiro (vale a pena lê-lo).
Citado de Público, 18/12/09

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Nossa Senhora de Guadalupe

Ermida de Nossa Senhora de Guadalupe, Serpa

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

John Le Carré

Uma secretária é um sítio perigoso para observar o mundo”
Gosto desta frase que serve para lembrar outro conceito importante e decisivo no entendimento do mundo que nos rodeia: na prática, a teoria é outra.
A frase de Le Carré esteve também nas paredes do meu gabinete de trabalho durante muito tempo e servia como lembrete para que todos nós, colaboradores e eu próprio, não perdêssemos de vista a realidade e os factos.

Qualquer decisor, para focar no que verdadeiramente conta, deveria sabê-la de cor. Para se lembrar sempre que há mais mundo do que a vista alcança. E ter dúvidas.

Lei de Percy

A competência de um líder é inversamente proporcional ao número de ‘yes persons’ que o rodeiam.
Gosto desta lei – muito transportável, de bolso e de uso imediato. Olha-se, conta-se e deduz-se.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Justiça

Basta ser cidadão – não é preciso ser especialista – para que se saiba que a Justiça funciona mal em Portugal. É uma opinião generalizada à enorme maioria de portugueses. Mesmo se, na actual crise, não atribuem, por iliteracia ou receio dos efeitos de empobrecimento, qualquer exigência prioritária. Mas basta ler ou ouvir sempre que a Justiça for tema.

Também sabemos que sem Justiça a funcionar não há estado de direito nem Democracia capazes. Podemos então afirmar que uma Justiça capaz é uma opção estratégica essencial para que possamos viver melhor, com melhor qualidade de vida, com sentimento de pertença mais desenvolvido, sendo mais solidários e menos desconfiados – para que nos sintamos integrados numa cidadania plena. E sendo a República um espaço de cidadania, a Justiça é uma sua arma fundamental.

Sendo assim, a Justiça operacional, equitativa, célere e independente constitui um objectivo estratégico prioritário de qualquer Governo. Como garante da Democracia e do Desenvolvimento. E se o dizem, porque não o fazem ou fizeram?

Não consigo compreender porque tudo continua num estado deplorável, com queixas permanentes de todos e sem que alguém se entenda. A resposta justificativa é velha: não há dinheiro. Como assim? Não há dinheiro?! Para pôr a funcionar um braço do Estado essencial e prioritário? Alguém se lembra de dizer que não há dinheiro para o Governo poder funcionar? Ou a Assembleia da República? Ou a falha é, pura e simplesmente, de incapacidade de organização das diversas componentes que fazem o poder judicial?

Sejamos objectivos: o bom funcionamento da Justiça, a existência de condições para a sua operacionalidade em tempo útil, depende da vontade política necessária do executivo. E se é fácil perceber que é estrategicamente prioritário, é só necessário definir o que fazer e como fazer. O financiamento, se esse for o problema, esse arranja-se na escala de prioridades – passando para segundo plano, coisas segundas.

Espécie de silogismo

1º - É natural que um Governo democraticamente eleito queira governar com um orçamento feito por si, à medida das suas opções e que lhe permita cumprir o programa com que se apresentou ao eleitorado. Normal, portanto;
2º - Um Governo em minoria tem - pode ter - que se sujeitar às oposições presentes na Assembleia da República. Também normal;
3º - A AR pode portanto e através de coligações (normalmente negativas dada a demasiada distância positiva existente entre partidos) pretender que o Governo governe com diferente Orçamento. Menos normal, mas acontece;
4º - Ao Governo assiste legitimidade para, desistindo, colocar a procura de soluções nas mãos do Presidente da República. Probabilidade aceitável.

Este é o cenário que qualquer lógica de aprendiz percebe.

Não podendo, pela demasiada distância positiva existente entre partidos, fiar-se nas vantagens de uma moção de censura mas juntando forças para a desistência do Governo e fazendo figas para que ao Presidente da República não passe a ideia de convocar eleições, as senhoras e senhores deputados, não se interrogando no porquê de fazerem o que fazem, movem-se na miragem de uma coligação governamental que sirva os seus interesses. A bem da Pátria, claro.

Este é o sonho da cegueira que provoca duas leis sobre o mesmo assunto.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

INOVAÇÃO

Não há quem não invoque, desde o Presidente da República até qualquer outro cidadão que tenha que botar discurso, a INOVAÇÃO como condição essencial para ampliar a competitividade que há-de aumentar a riqueza dos portugueses. INOVAR É PRECISO! é a palavra de ordem para ultrapassar a crise actual e garantir um desenvolvimento sustentável do país. Muito bem, inovar é bom.

Porém, como tudo, também a inovação tem duas caras – ou duas moedas, para utilizar expressão cara ao Presidente da República. Uma boa e uma má. E é a inovação má que parece estar a prevalecer em Portugal.

Sábado passado um aposentado Inspector do Trabalho, João Fraga de Oliveira, escreveu no Público um interessante artigo sobre o tema. Deu-lhe um título significativo e que explica tudo: “Salários e inovação empresarial: o mínimo da razão directa”.

O que diz esse artigo? Em resumo: que a única e importante atenção dada à inovação empresarial é aquela que permitirá despedir trabalhadores para pagar menos salários. Ou seja, inova-se, despedindo, no conforto da ausência de risco. Porquê assim? Porque, por um lado, os baixos salários continuarão – razão primeira para que não valha a pena inovar para produzir mais e melhor (o custo da pesquisa não é compensado …) e, por outro, o contingente de desempregados permitirá uma exploração desenfreada sustentada (más condições de trabalho, horários alargados, intensificação abusiva de ritmos, diminuição de direitos, desrespeito etc. etc.) numa também cómoda continuidade. Ou seja e como refere o articulista: “Afinal, as vítimas do desemprego não são apenas os desempregados mas, também, sempre, os empregados.”

Aliás outra não será a razão que leva ao posicionamento da Confederação patronal ao realizar que “A actualização do salário mínimo vai causar perda de competitividade, de encomendas e de emprego.” acrescentando a sua coerência na recusa de aumentos aceitáveis do salário mínimo. Porque, verdadeira e empresarioportuguesmente, a INOVAÇÃO é para entreter discursos. Lampedusa sabia muito quando dizia ser “preciso mudar alguma coisa para que tudo fique na mesma”.

Álvaro Siza

Reconhecido como um dos arquitectos contemporâneos mais importantes e respeitados internacionalmente – tem obras espalhadas por todo o mundo – foi recentemente distinguido pela Ordem dos Arquitectos como seu Membro Honorário, numa cerimónia em que (para além de uma ovação em pé prestada a Nuno Teotónio Pereira) o americano Wilfried Wang, arquitecto e crítico, fez o elogio do homenageado. Tendo tido agora acesso ao texto da intervenção que então lhe ouvi, transcrevo um excerto que considero significativo da caracterização feita da obra de Siza. Disse então Wilfried Wang: “A obra de Siza Vieira é mais importante agora do que nunca. Conheço poucos arquitectos cuja obra tenha estado tão empaticamente comprometida com culturas preexistentes, cuja atitude tenha sido sempre de aprendizagem com o contexto envolvente e cuja humildade tenha assegurado uma tão equilibrada relação entre o antigo e o novo.».

Álvaro Siza é uma personalidade fascinante para quem conhece a sua obra e cativante para quem conhece a sua pessoa. Olhar a sua obra é um prazer para os sentidos e para a inteligência. E um exemplo ético para quem é da profissão.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Nem bom vento...


Pois é… devem ter razão: de Espanha nem bom vento, nem bom casamento. Depois de sabermos do mau vento da vontade mal-agradecida de Franco - ignorando pactos e desdenhando de convites para futuras caçadas - sabemos agora que Salazar mandou que os do Estado-Maior elaborassem os planos necessários para a defesa terrestre do país, não fosse vir aí uma catrefa de espanhóis. Os antigos tinham toda a razão - e os militares também - o IN estava em terras de Castela. Mas se caldos de galinha não fazem mal a ninguém, Salazar, sempre previdente, ordenou também, ao que dizem em conjunto luso-britânico, o estudo defensivo de Lisboa contra ataques aéreos ou vindos do mar. Não fosse o diabo tecê-las e a proposta obrigatória de noivado fosse outra.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Stefano Allievi

“Ouvir as pessoas não quer dizer aceitar o que elas dizem.”, Stefano Alllievi, italiano, sociólogo, professor universitário e coordenador do estudo Conflitos sobre as Mesquitas na Europa – Temas e Tendências Políticas.

Se, para quem tem responsabilidades, é preciso (é um dever) ouvir as pessoas, o facto de as ouvir não obriga a aceitar ou concordar. Mas impede a ignorância…e obriga a pensar.

Joaquim Vieira

“O que significa que, quando o jornal nada mais publica após um desmentido, reconhece implicitamente que o reclamante tem razão ou que não possui dados que o contradigam.” in A verdade a que temos direito, Público, 6/12/09.
Mesmo entre parêntesis, tomarei como boa esta definição do Provedor do Leitor do jornal Público. Espero que assim seja reconhecido - pelos leitores e pelos jornalistas.

Manuel Alegre

“Há um poder dos cidadãos, a democracia é de todos, a República não tem donos.”
Um dos slogans de Maio de 68 de que mantenho a lembrança, dizia: os ouvidos têm paredes. Que se repita o conceito tantas vezes que não fiquem dúvidas sobre a Liberdade que nos assiste.

Para que conste

O Open Society Institute realizou um estudo que denominou como Muçulmanos na Europa – Um Relatório em 11 Cidades da União Europeia.
O resultado deste estudo (e cito a resenha do Público de 6/12/09) desmente três mitos:

  • Primeiro, que os muçulmanos não se queiram integrar;

  • Segundo, que as necessidades dos muçulmanos são diferentes;

  • Terceiro, que os muçulmanos não se envolvem na vida política e cívica.

Ao contrário da vergonhosa imposição na Suiça – repetitiva, segundo Cohen Bendit, que lembra o comportamento suíço na II Guerra Mundial – é com os valores europeus de igualdade, justiça e respeito que a UE e os seus países-membros tem de enfrentar estes problemas étnico-religiosos, impedindo a aceitação da discriminação como normalidade.

30 anos do Panathlon


O Panathlon Clube de Lisboa fez 30 anos. Realizou um jantar comemorativo onde estiveram presentes para além dos seus membros, o Secretário de Estado da Juventude e Desporto e diversos convidados (fui um deles), tendo a direcção do clube atribuído um prémio especial ao Luís Caldas, notável figura do Desporto e a quem me liga a amizade.
Sendo um clube com finalidades éticas e culturais e que pretende aprofundar e defender os valores do Desporto, a noite teve a intervenção de fundo de Bagão Feliz sob o título “A Ética e o Desporto”, muito interessante pelas relações multidisciplinares que apresentou.
O correr das coisas e das falas das diferentes intervenções tirou-me da memória uma frase de Roy Dysney, autor americano, de que gosto particularmente e que esteve anos nas paredes do meu gabinete de trabalho: “quando os teus valores são claros para ti, tomar decisões torna-se mais fácil.” O que, valendo para o bem e para o mal, para o dito e o não dito, possibilita sempre perceber o enquadramento de cada decisão e o valor de cada palavra, permitindo-nos aquilatar da ética que suporta as acções de cada momento e de cada um. Gosto da frase e mantenho-a presente.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Messi, Bola de Ouro 2009

Leonel Messi é produto de uma cantera que não se deslumbra com habilidades circenses – ensina futebol, inserindo a capacidade técnica num modo colectivo de entender o jogo. Por isso Messi – que mete a bola no bolso se preciso for - é capaz de pressionar, de recuperar bolas, de criar problemas a adversários e servir companheiros para que a equipa continue a pressionar o adversário e a dominar o jogo. Pela garra com que se bate, pela inteligência colectiva que coloca no jogo, Messi é um predestinado que gostaria, ao contrário de outros, de ter numa equipa que treinasse. Espero ainda que ganhe o título de melhor futebolista mundial.

Cristina de Kirchner, Presidente da Argentina

“Não há muita democracia ou pouca democracia: ou há democracia ou não há democracia. É como a gravidez: não se está muito grávida ou pouco grávida. Ou se está grávida ou não se está grávida.” (Lisboa, Cimeira Ibero-Americana, Dezembro 2009) .Clarinho como água.

Tratado de Lisboa

Enquanto europeísta convicto tenho grandes expectativas com a entrada em vigor do Tratado de Lisboa. Espero assim que a Europa possa finalmente mostrar-se como o espaço geo-político que nos levou a ser favoráveis à adesão. Os dados estão lançados e será da exclusiva responsabilidade dos actuais políticos dos países da União qualquer falhanço da colocação da Europa na cena dos actores mundiais. Quem é a favor da Europa e da União sabe que existem as condições para garantir a esta massa de 500 milhões de cidadãos uma qualidade de vida decente, em liberdade e democracia. Basta que se entendam. Impondo as regras dos valores que nos são caros e clarificando exigências. Solidariamente. E que os europeus compreendam a razão do aviso de António Machado: “Caminante, no hay camiño/ se hace camiño al andar”.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Centenário do COP


O Comité Olímpico de Portugal fez 100 anos no passado dia 27 de Novembro. Desde 1912, Jogos de Estocolmo, que tem participado em todos os Jogos. É obra!
No jantar festivo, Carlos Lopes, o enorme atleta, recebeu o prémio de Atleta do Centenário. Jacques Rogge, Presidente do Comité Olímpico Internacional – e por acaso ex-internacional belga de rugby – esteve presente bem como Sebastian Coe, duplo campeão dos 1500m em Moscovo e Los Angeles e actual presidente do Comité Organizador dos Jogos Londres 2012 – e que, também por acaso, encontrei nas Açoteias, treinava eu a selecção nacional de juniores de rugby e ele, correndo à volta do campo na pista de 4 corredores, treinava para as medalhas olímpicas – que considerou Carlos Lopes como o atleta europeu do século.
Presentes, nos cerca de 900 convidados, muitos mais entre dirigentes olímpicos internacionais, atletas reconhecidos – como a Rosa Mota e o Sergei Bubka (que vi saltar por cima de dois andares no antigo Alvalade) – treinadores como o Moniz Pereira e inúmeros nomes ligados ao Desporto. Bom e festivo encontro de amigos da causa.

A quantidade do ensino

Não tendo mais paciência para um pouco interessante Sporting-Benfica, zapei para ancorar num programa da SIC Notícias onde Nuno Crato e Maria do Carmo Vieira falavam sobre Educação com a presença ainda de Medina Carreira e a moderação de Mário Crespo. Não saí mais de lá. Excelente demonstração do que é o sistema de ensino em Portugal e da sua mediocridade. Percebi o fundo da questão: a dominância do contexto sobre o conteúdo. Pior: existe um manifesto desprezo pelo conteúdo – o conteúdo não interessa, o que interessa são as competências (alguém me explica o significado disto?). Compreendi: não se aprende nada! E percebi também o resultado: manter a ignorância, ignorante.

Porque este sistema que se apoia na valorização da quantidade e que se baseia em princípios bárbaros recheados de grandiloquências apenas garante uma coisa: quem é filho d’algo singra; quem não tem a sorte de casa, fica. O que aliás - não desalinhando da peregrina ideia de responsabilizar a família pela educação e desenvolvimento do saber de cada criança – garante a continuidade do quartel-general em Abrantes.

O exemplo e conclusão dados por Nuno Crato são elucidativos do método (cito de ouvido): não se pode saber que 7+7 são catorze; o que se deve saber é que 7 são 5+2 e que, sendo 5+5 igual a dez como todos sabemos e que 2+2, também como sabemos, são 4, então 7+7 será o mesmo que 10+4. Resultado: dificilmente se chegará a saber que 7+7 são catorze.

Assustador?! Medina Carreira anuiu, declarando: o país está a ser tomado lentamente pelos medíocres. Entre o que é e o que deveria ser existe uma óbvia conversa de surdos que atinge a idiotice completa com as soluções apresentadas. Resultando claramente num cada vez mais desastroso desempenho das escolas públicas e estabelecendo o primado dos economicamente poderosos.

É para isto que serve e foi pensada a escola republicana?! Ninguém, com poder e responsabilidade, se preocupa? O Cardoso Pires, na razão de Alexandra Alpha, tem razão? Isto é um sítio? Mal frequentado?

Arquivo do blogue

Seguidores