quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Há Pavilhões a Mais?

Na enorme barafunda em que se tornou a minha secretária – jornais antigos, notas, páginas de textos emendadas, livros, fichas e sei lá mais o quê (fora gatos a passear ou a procurar o teclado para dormir e marcar linhas e linhas com o mesmo símbolo) – não sei o que fiz a um recorte há tempos publicado no Público por Francisco Jaime Quesado, gestor do Programa Operacional Sociedade do Conhecimento, e titulado como “QREN: divergir para convergir” e onde – num interessante artigo em que dava conta da mudança estratégica que visiona para a continuidade assertiva deste pacote de fundos comunitários – chamava a atenção, referindo-se ao balanço dos 20 anos de Fundos Comunitários em Portugal e a propósito de uma lógica não raras vezes pouco coordenada e monitorizada, para a proliferação desnecessária (...) de pavilhões desportivos municipais.

Pese a simpatia, não é assim. E só por não ser, levanto o tema tanto tempo decorrido.


Não existem pavilhões desportivos a mais ou desnecessários em Portugal. Basta fazer contas: recomenda o Conselho da Europa o parâmetro de 0,15m2/habitante para pavilhões e salas desportivas na composição da dotação global de 4m2/habitante de equipamentos desportivos de base – isto é daqueles não especializados ou destinados ao espectáculo desportivo. Se este valor for multiplicado pela população portuguesa, ver-se-á que a totalidade dos pavilhões existentes não cumprirá o standard desejado para a prática físico-desportiva de uma população como a nossa.

Para exemplo serve que, quando da candidatura de Jorge Sampaio à Câmara de Lisboa, contas feitas com base nestes elementos do Conselho da Europa diziam que faltava à capital uma área de equipamentos desportivos de base equivalente a 90 Terreiros do Paço. Tendo em conta tratar-se do atraso da capital – e sabendo do enorme atraso recebido em todo o país – e mesmo sabendo das melhorias conseguidas, podemos afirmar estar-se ainda longe de atingir os valores internacionalmente recomendados.

O problema, nesta matéria, é outro. É o da iliteracia desportiva. O que traduz, algumas vezes, a construção de exageros sem nexo de equipamentos desportivos. Porque assim o dita o dirigente político municipal e assim o apoia a população – porque não sabem e julgam que as transmissões televisivas que vêem são a realidade que precisam; ou porque, se o vizinho tem, não há como ficar atrás. Enfim, exageros de quem não sabe e tem do desporto uma experiência nula – a que, aliás, nada ajuda a inexistência de uma estratégia de desenvolvimento desportivo clara e sustentada no ambiente escolar.

Durante o tempo do III Quadro em que coordenei a Medida Desporto – anteriormente não existiam quaisquer financiamentos directamente destinados às infra-estruturas desportivas - foi feito um grande esforço para evitar o exagero despesista, introduzindo conceitos de polivalência espacial que permitem a utilização permanente dos espaços para diferentes práticas desportivas, mas permitindo também o recurso, nas ocasiões necessárias, à colocação (amovível) de bancadas. Fazendo, no fundo, da mesma forma com que montamos as feiras anuais – quando é preciso, amplia-se. Mas deixando sempre o espaço utilizável para o que é, neste caso dos pavilhões, importante: a prática desportiva. E há bons resultados nessa matéria nos 39 pavilhões e 42 salas desportivas comparticipados pela Medida Desporto. Que espero possam servir como exemplo para a construção de outros novos que venham a surgir.

Pavilhões desportivos municipais que permitam uma prática desportiva sustentada e uma actividade física permanente não existem em demasia. Exageros de pavilhões que ultrapassam as necessidades, há-os – mas não tantos quanto se faz crer. Seja como for, ainda falta um bom número de pavilhões para garantir o equilíbrio territorial para um acesso generalizado que possibilite a igualdade de oportunidades desportivas aos portugueses.

sábado, 26 de dezembro de 2009

Naturalizados

Volto a citar Eduardo Lourenço: "O nascer num sítio não é destino, é uma contingência.". Contingência que, de acordo entre partes, qualquer um pode alterar. Da naturalização, com excepção da candidatura a Presidente da República, resultam direitos de cidadania idênticos a qualquer cidadão português de nascimento. Segundo a comunicação social, José Mourinho, treinador de futebol, afirmou: "Se algum dia for seleccionador, direi não aos naturalizados". Como tal posição violará direitos de cidadania constitucionalmente estabelecidos, José Mourinho não poderá ser seleccionador nacional. Tão simples quanto isto!

A propósito: uma Selecção Nacional só existe se integrada numa Federação Desportiva detentora do estatuto de Utilidade Pública Desportiva. Que com esse estatuto e sendo assim a federação oficial da modalidade, passa a deter um conjunto de direitos e obrigações, entre os quais os direitos desportivos de organização das selecções nacionais, campeonatos nacionais e atribuição de títulos de campeões nacionais.

Feriados

Os senhores empresários (suponho - espero - que sejam só alguns) querem diminuir o número anual de feriados. Já nem falo no contra-senso que, em época de crise e face à escassez de trabalho e elevado número de desempregados, a ideia representa. Diminuir o número de feriados como desculpa necessária ao aumento da produtividade é tão estúpido como aumentar as balizas de futebol para conseguir mais golos. Ou o mar, para que haja mais peixe. E que tal olhar para as questões essenciais que não deixam aumentar a produtividade - procura de novos mercados, adequação dos produtos ao mercado, definir a estratégia para a criação de valor, melhor preparação de empresários, formação para empregados, controlo de custos e despesas, etc. etc. Enfim, gestão empresarial à séria. Seria melhor começo de 2010...

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009


quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Pontapé na memória

O edifício da Praça da Alegria ardeu e a cave do Hot afogou-se em água. Agora falta saber das hipóteses de recuperação do edifício. Seja como for, a cave, a velha cave das imensas memórias de gerações, foi-se. Fui lá director anos seguidos com o Paulo Gil, José Soares, Dário Romani, Chico Almeida, José Duarte e outros que maldosamente a memória não garante. Foi lá que aprendi (?) a ser barista. Que conheci o Villas. Foi lá que passei noites infernais. Memoráveis. De Tete Montoliu a Charlie Haden com Carlos Paredes e Fernando Alvim (foto), passando por Marcos Resende, Pots e centenas de outros em jam’s de desbundas imparáveis de que, de certeza, guardo papeis e fotografias em algum sítio da casa. Foi dali que, noites a fio, saí para a manhã já levantada. É dali que mantenho lembranças inesquecíveis: de amigos e amigas, de músicas, de músicos, de swings, de sons, de JAZZ.
Em tempo: e daqueles que a memória não me garantiu na mistura das emoções - as voltas, mais a frio, acabam sempre por lá chegar - não quero esquecer o Zé Eduardo, músico, contrabaixista, e a primeira Escola do Hot que foi lançada quando da nossa direcção e que ele teve a enorme e bem sucedida tarefa de dirigir.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Comprar sonhos

A minha amiga Irene Pimentel (essa mesmo, a Prémio Pessoa) acenou-me, dizendo: "Tenho que ir comprar sonhos."
Estou com ela. Não sei aonde ir mas deve ser a única forma de aguentar o estado das coisas... Vou procurar.

Uma coisa repelente

"Eu odeio racismo. Racismo é um sintoma do atraso da humanidade, uma coisa repelente, uma perda de tempo grotesca."
João Ubaldo Ribeiro (1941-), escritor brasileiro (vale a pena lê-lo).
Citado de Público, 18/12/09

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Nossa Senhora de Guadalupe

Ermida de Nossa Senhora de Guadalupe, Serpa

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

John Le Carré

Uma secretária é um sítio perigoso para observar o mundo”
Gosto desta frase que serve para lembrar outro conceito importante e decisivo no entendimento do mundo que nos rodeia: na prática, a teoria é outra.
A frase de Le Carré esteve também nas paredes do meu gabinete de trabalho durante muito tempo e servia como lembrete para que todos nós, colaboradores e eu próprio, não perdêssemos de vista a realidade e os factos.

Qualquer decisor, para focar no que verdadeiramente conta, deveria sabê-la de cor. Para se lembrar sempre que há mais mundo do que a vista alcança. E ter dúvidas.

Lei de Percy

A competência de um líder é inversamente proporcional ao número de ‘yes persons’ que o rodeiam.
Gosto desta lei – muito transportável, de bolso e de uso imediato. Olha-se, conta-se e deduz-se.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Justiça

Basta ser cidadão – não é preciso ser especialista – para que se saiba que a Justiça funciona mal em Portugal. É uma opinião generalizada à enorme maioria de portugueses. Mesmo se, na actual crise, não atribuem, por iliteracia ou receio dos efeitos de empobrecimento, qualquer exigência prioritária. Mas basta ler ou ouvir sempre que a Justiça for tema.

Também sabemos que sem Justiça a funcionar não há estado de direito nem Democracia capazes. Podemos então afirmar que uma Justiça capaz é uma opção estratégica essencial para que possamos viver melhor, com melhor qualidade de vida, com sentimento de pertença mais desenvolvido, sendo mais solidários e menos desconfiados – para que nos sintamos integrados numa cidadania plena. E sendo a República um espaço de cidadania, a Justiça é uma sua arma fundamental.

Sendo assim, a Justiça operacional, equitativa, célere e independente constitui um objectivo estratégico prioritário de qualquer Governo. Como garante da Democracia e do Desenvolvimento. E se o dizem, porque não o fazem ou fizeram?

Não consigo compreender porque tudo continua num estado deplorável, com queixas permanentes de todos e sem que alguém se entenda. A resposta justificativa é velha: não há dinheiro. Como assim? Não há dinheiro?! Para pôr a funcionar um braço do Estado essencial e prioritário? Alguém se lembra de dizer que não há dinheiro para o Governo poder funcionar? Ou a Assembleia da República? Ou a falha é, pura e simplesmente, de incapacidade de organização das diversas componentes que fazem o poder judicial?

Sejamos objectivos: o bom funcionamento da Justiça, a existência de condições para a sua operacionalidade em tempo útil, depende da vontade política necessária do executivo. E se é fácil perceber que é estrategicamente prioritário, é só necessário definir o que fazer e como fazer. O financiamento, se esse for o problema, esse arranja-se na escala de prioridades – passando para segundo plano, coisas segundas.

Espécie de silogismo

1º - É natural que um Governo democraticamente eleito queira governar com um orçamento feito por si, à medida das suas opções e que lhe permita cumprir o programa com que se apresentou ao eleitorado. Normal, portanto;
2º - Um Governo em minoria tem - pode ter - que se sujeitar às oposições presentes na Assembleia da República. Também normal;
3º - A AR pode portanto e através de coligações (normalmente negativas dada a demasiada distância positiva existente entre partidos) pretender que o Governo governe com diferente Orçamento. Menos normal, mas acontece;
4º - Ao Governo assiste legitimidade para, desistindo, colocar a procura de soluções nas mãos do Presidente da República. Probabilidade aceitável.

Este é o cenário que qualquer lógica de aprendiz percebe.

Não podendo, pela demasiada distância positiva existente entre partidos, fiar-se nas vantagens de uma moção de censura mas juntando forças para a desistência do Governo e fazendo figas para que ao Presidente da República não passe a ideia de convocar eleições, as senhoras e senhores deputados, não se interrogando no porquê de fazerem o que fazem, movem-se na miragem de uma coligação governamental que sirva os seus interesses. A bem da Pátria, claro.

Este é o sonho da cegueira que provoca duas leis sobre o mesmo assunto.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

INOVAÇÃO

Não há quem não invoque, desde o Presidente da República até qualquer outro cidadão que tenha que botar discurso, a INOVAÇÃO como condição essencial para ampliar a competitividade que há-de aumentar a riqueza dos portugueses. INOVAR É PRECISO! é a palavra de ordem para ultrapassar a crise actual e garantir um desenvolvimento sustentável do país. Muito bem, inovar é bom.

Porém, como tudo, também a inovação tem duas caras – ou duas moedas, para utilizar expressão cara ao Presidente da República. Uma boa e uma má. E é a inovação má que parece estar a prevalecer em Portugal.

Sábado passado um aposentado Inspector do Trabalho, João Fraga de Oliveira, escreveu no Público um interessante artigo sobre o tema. Deu-lhe um título significativo e que explica tudo: “Salários e inovação empresarial: o mínimo da razão directa”.

O que diz esse artigo? Em resumo: que a única e importante atenção dada à inovação empresarial é aquela que permitirá despedir trabalhadores para pagar menos salários. Ou seja, inova-se, despedindo, no conforto da ausência de risco. Porquê assim? Porque, por um lado, os baixos salários continuarão – razão primeira para que não valha a pena inovar para produzir mais e melhor (o custo da pesquisa não é compensado …) e, por outro, o contingente de desempregados permitirá uma exploração desenfreada sustentada (más condições de trabalho, horários alargados, intensificação abusiva de ritmos, diminuição de direitos, desrespeito etc. etc.) numa também cómoda continuidade. Ou seja e como refere o articulista: “Afinal, as vítimas do desemprego não são apenas os desempregados mas, também, sempre, os empregados.”

Aliás outra não será a razão que leva ao posicionamento da Confederação patronal ao realizar que “A actualização do salário mínimo vai causar perda de competitividade, de encomendas e de emprego.” acrescentando a sua coerência na recusa de aumentos aceitáveis do salário mínimo. Porque, verdadeira e empresarioportuguesmente, a INOVAÇÃO é para entreter discursos. Lampedusa sabia muito quando dizia ser “preciso mudar alguma coisa para que tudo fique na mesma”.

Álvaro Siza

Reconhecido como um dos arquitectos contemporâneos mais importantes e respeitados internacionalmente – tem obras espalhadas por todo o mundo – foi recentemente distinguido pela Ordem dos Arquitectos como seu Membro Honorário, numa cerimónia em que (para além de uma ovação em pé prestada a Nuno Teotónio Pereira) o americano Wilfried Wang, arquitecto e crítico, fez o elogio do homenageado. Tendo tido agora acesso ao texto da intervenção que então lhe ouvi, transcrevo um excerto que considero significativo da caracterização feita da obra de Siza. Disse então Wilfried Wang: “A obra de Siza Vieira é mais importante agora do que nunca. Conheço poucos arquitectos cuja obra tenha estado tão empaticamente comprometida com culturas preexistentes, cuja atitude tenha sido sempre de aprendizagem com o contexto envolvente e cuja humildade tenha assegurado uma tão equilibrada relação entre o antigo e o novo.».

Álvaro Siza é uma personalidade fascinante para quem conhece a sua obra e cativante para quem conhece a sua pessoa. Olhar a sua obra é um prazer para os sentidos e para a inteligência. E um exemplo ético para quem é da profissão.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Nem bom vento...


Pois é… devem ter razão: de Espanha nem bom vento, nem bom casamento. Depois de sabermos do mau vento da vontade mal-agradecida de Franco - ignorando pactos e desdenhando de convites para futuras caçadas - sabemos agora que Salazar mandou que os do Estado-Maior elaborassem os planos necessários para a defesa terrestre do país, não fosse vir aí uma catrefa de espanhóis. Os antigos tinham toda a razão - e os militares também - o IN estava em terras de Castela. Mas se caldos de galinha não fazem mal a ninguém, Salazar, sempre previdente, ordenou também, ao que dizem em conjunto luso-britânico, o estudo defensivo de Lisboa contra ataques aéreos ou vindos do mar. Não fosse o diabo tecê-las e a proposta obrigatória de noivado fosse outra.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Stefano Allievi

“Ouvir as pessoas não quer dizer aceitar o que elas dizem.”, Stefano Alllievi, italiano, sociólogo, professor universitário e coordenador do estudo Conflitos sobre as Mesquitas na Europa – Temas e Tendências Políticas.

Se, para quem tem responsabilidades, é preciso (é um dever) ouvir as pessoas, o facto de as ouvir não obriga a aceitar ou concordar. Mas impede a ignorância…e obriga a pensar.

Joaquim Vieira

“O que significa que, quando o jornal nada mais publica após um desmentido, reconhece implicitamente que o reclamante tem razão ou que não possui dados que o contradigam.” in A verdade a que temos direito, Público, 6/12/09.
Mesmo entre parêntesis, tomarei como boa esta definição do Provedor do Leitor do jornal Público. Espero que assim seja reconhecido - pelos leitores e pelos jornalistas.

Manuel Alegre

“Há um poder dos cidadãos, a democracia é de todos, a República não tem donos.”
Um dos slogans de Maio de 68 de que mantenho a lembrança, dizia: os ouvidos têm paredes. Que se repita o conceito tantas vezes que não fiquem dúvidas sobre a Liberdade que nos assiste.

Para que conste

O Open Society Institute realizou um estudo que denominou como Muçulmanos na Europa – Um Relatório em 11 Cidades da União Europeia.
O resultado deste estudo (e cito a resenha do Público de 6/12/09) desmente três mitos:

  • Primeiro, que os muçulmanos não se queiram integrar;

  • Segundo, que as necessidades dos muçulmanos são diferentes;

  • Terceiro, que os muçulmanos não se envolvem na vida política e cívica.

Ao contrário da vergonhosa imposição na Suiça – repetitiva, segundo Cohen Bendit, que lembra o comportamento suíço na II Guerra Mundial – é com os valores europeus de igualdade, justiça e respeito que a UE e os seus países-membros tem de enfrentar estes problemas étnico-religiosos, impedindo a aceitação da discriminação como normalidade.

30 anos do Panathlon


O Panathlon Clube de Lisboa fez 30 anos. Realizou um jantar comemorativo onde estiveram presentes para além dos seus membros, o Secretário de Estado da Juventude e Desporto e diversos convidados (fui um deles), tendo a direcção do clube atribuído um prémio especial ao Luís Caldas, notável figura do Desporto e a quem me liga a amizade.
Sendo um clube com finalidades éticas e culturais e que pretende aprofundar e defender os valores do Desporto, a noite teve a intervenção de fundo de Bagão Feliz sob o título “A Ética e o Desporto”, muito interessante pelas relações multidisciplinares que apresentou.
O correr das coisas e das falas das diferentes intervenções tirou-me da memória uma frase de Roy Dysney, autor americano, de que gosto particularmente e que esteve anos nas paredes do meu gabinete de trabalho: “quando os teus valores são claros para ti, tomar decisões torna-se mais fácil.” O que, valendo para o bem e para o mal, para o dito e o não dito, possibilita sempre perceber o enquadramento de cada decisão e o valor de cada palavra, permitindo-nos aquilatar da ética que suporta as acções de cada momento e de cada um. Gosto da frase e mantenho-a presente.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Messi, Bola de Ouro 2009

Leonel Messi é produto de uma cantera que não se deslumbra com habilidades circenses – ensina futebol, inserindo a capacidade técnica num modo colectivo de entender o jogo. Por isso Messi – que mete a bola no bolso se preciso for - é capaz de pressionar, de recuperar bolas, de criar problemas a adversários e servir companheiros para que a equipa continue a pressionar o adversário e a dominar o jogo. Pela garra com que se bate, pela inteligência colectiva que coloca no jogo, Messi é um predestinado que gostaria, ao contrário de outros, de ter numa equipa que treinasse. Espero ainda que ganhe o título de melhor futebolista mundial.

Cristina de Kirchner, Presidente da Argentina

“Não há muita democracia ou pouca democracia: ou há democracia ou não há democracia. É como a gravidez: não se está muito grávida ou pouco grávida. Ou se está grávida ou não se está grávida.” (Lisboa, Cimeira Ibero-Americana, Dezembro 2009) .Clarinho como água.

Tratado de Lisboa

Enquanto europeísta convicto tenho grandes expectativas com a entrada em vigor do Tratado de Lisboa. Espero assim que a Europa possa finalmente mostrar-se como o espaço geo-político que nos levou a ser favoráveis à adesão. Os dados estão lançados e será da exclusiva responsabilidade dos actuais políticos dos países da União qualquer falhanço da colocação da Europa na cena dos actores mundiais. Quem é a favor da Europa e da União sabe que existem as condições para garantir a esta massa de 500 milhões de cidadãos uma qualidade de vida decente, em liberdade e democracia. Basta que se entendam. Impondo as regras dos valores que nos são caros e clarificando exigências. Solidariamente. E que os europeus compreendam a razão do aviso de António Machado: “Caminante, no hay camiño/ se hace camiño al andar”.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Centenário do COP


O Comité Olímpico de Portugal fez 100 anos no passado dia 27 de Novembro. Desde 1912, Jogos de Estocolmo, que tem participado em todos os Jogos. É obra!
No jantar festivo, Carlos Lopes, o enorme atleta, recebeu o prémio de Atleta do Centenário. Jacques Rogge, Presidente do Comité Olímpico Internacional – e por acaso ex-internacional belga de rugby – esteve presente bem como Sebastian Coe, duplo campeão dos 1500m em Moscovo e Los Angeles e actual presidente do Comité Organizador dos Jogos Londres 2012 – e que, também por acaso, encontrei nas Açoteias, treinava eu a selecção nacional de juniores de rugby e ele, correndo à volta do campo na pista de 4 corredores, treinava para as medalhas olímpicas – que considerou Carlos Lopes como o atleta europeu do século.
Presentes, nos cerca de 900 convidados, muitos mais entre dirigentes olímpicos internacionais, atletas reconhecidos – como a Rosa Mota e o Sergei Bubka (que vi saltar por cima de dois andares no antigo Alvalade) – treinadores como o Moniz Pereira e inúmeros nomes ligados ao Desporto. Bom e festivo encontro de amigos da causa.

A quantidade do ensino

Não tendo mais paciência para um pouco interessante Sporting-Benfica, zapei para ancorar num programa da SIC Notícias onde Nuno Crato e Maria do Carmo Vieira falavam sobre Educação com a presença ainda de Medina Carreira e a moderação de Mário Crespo. Não saí mais de lá. Excelente demonstração do que é o sistema de ensino em Portugal e da sua mediocridade. Percebi o fundo da questão: a dominância do contexto sobre o conteúdo. Pior: existe um manifesto desprezo pelo conteúdo – o conteúdo não interessa, o que interessa são as competências (alguém me explica o significado disto?). Compreendi: não se aprende nada! E percebi também o resultado: manter a ignorância, ignorante.

Porque este sistema que se apoia na valorização da quantidade e que se baseia em princípios bárbaros recheados de grandiloquências apenas garante uma coisa: quem é filho d’algo singra; quem não tem a sorte de casa, fica. O que aliás - não desalinhando da peregrina ideia de responsabilizar a família pela educação e desenvolvimento do saber de cada criança – garante a continuidade do quartel-general em Abrantes.

O exemplo e conclusão dados por Nuno Crato são elucidativos do método (cito de ouvido): não se pode saber que 7+7 são catorze; o que se deve saber é que 7 são 5+2 e que, sendo 5+5 igual a dez como todos sabemos e que 2+2, também como sabemos, são 4, então 7+7 será o mesmo que 10+4. Resultado: dificilmente se chegará a saber que 7+7 são catorze.

Assustador?! Medina Carreira anuiu, declarando: o país está a ser tomado lentamente pelos medíocres. Entre o que é e o que deveria ser existe uma óbvia conversa de surdos que atinge a idiotice completa com as soluções apresentadas. Resultando claramente num cada vez mais desastroso desempenho das escolas públicas e estabelecendo o primado dos economicamente poderosos.

É para isto que serve e foi pensada a escola republicana?! Ninguém, com poder e responsabilidade, se preocupa? O Cardoso Pires, na razão de Alexandra Alpha, tem razão? Isto é um sítio? Mal frequentado?

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Era só o que me faltava!

Era só o que me faltava que uma conversa telefónica com amigo meu me obrigasse a vir a público explicá-la porque os virtuosos não sabiam – e gostariam de saber – do que teria dito.
Era só o que me faltava que me sentisse obrigado a alimentar o populismo dos justicialistas de duas medidas. Ou os insuportáveis moralistas de serviço.
Era só o que me faltava…
…que a transparência e a prestação de contas que deve caracterizar a vida pública democrática se transformasse em devassa.
Era só o que me faltava!

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Esqueça?!

A França qualificou-se para o Mundial sul-africano com uma assistência vergonhosa de Henry. Viram-no, num meio-mundo de indignação, os irlandeses, os telespectadores, os espectadores próximos da baliza. Nada viram o árbitro e os bandeirinhas. No entanto a solução tinha remédio fácil - bastaria visualisar as imagens televisivas. Usando o sistema do rugby - a pedido do próprio árbitro - ou o sistema do futebol americano - a pedido, em número limitado de vezes como no olho de falcão tenístico, do treinador da equipa presumidamente prejudicada.
Perguntado, face aos factos, sobre o quando? da utilização das novas tecnologias, o senhor Platini - que teve tanto de bom futebolista como parece ter de defensor do capcioso sistema de interesses que envolve o futebol - respondeu: ESQUEÇA!

Esqueça é assim o sinónimo de uma indústria que dá mais importância à circulação da moeda do que à ética que a deveria controlar.
O futebol que o senhor Platini representa é um sinal da desvalorização dos tempos.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Ana Jorge, actualmente ministra

É preciso que uma pessoa se ponha no lugar do outro para perceber o que é que o outro gostaria de ouvir, in Pública 22.11.09

Francisco Teixeira da Mota

"Estamos assim num regime de "vale-tudo", sendo certo que a percepção do cidadão comum é essa mesma. Seria bom que se revisse serenamente esta legislação de forma a criar um regime, quiça, exequível."
Neste artigo do Público de 21/Nov sob o título O terramoto das escutas e o regime do "vale-tudo", Teixeira da Mota cita ainda o professor Costa Andrade para com ele reconhecer que a alteração da lei de processo penal de 2007 é um preceito atrabiliário, obscuro, desnecessário e absurdo.
É preciso dizer mais? Ser mais explícito?
Quando é que os fazedores de leis, decisores, todos aqueles que, por momentos da vida, tenham (ou julguem ter) que impor qualquer coisa que vá obrigar outros, pensam primeiro, ensaiam, testam, analisam, articulam, perguntam, procuram incongruências e contradições e se preocupam em garantir coerência? Coerência com a vida, claro. Falando com o mundo... obrigando-se à simplicidade de prestar serviço e serviço capaz. Porque nós, os outros, não somos devedores - somos cidadãos. Respeitáveis.
(hoje, depois do Prós e Contras, fiquei pior. Sinto que existe uma enorme tropa de vaidosos incompetentes que fabricam leis, regras e regulamentos ao pôr e dispôr do sabor do achar...Isto é muito mau e já me falta saco para o transporte.)

sábado, 21 de novembro de 2009

Vasco Pulido Valente

Da sua crónica Uma escuta do Público de ontem, retiro: "[...] A lei vigente junta o pior de dois mundos. Cria suspeitos que não resolve e, de caminho, diminui a principal autoridade de que os portugueses dependem. [...] É inteiramente legítimo tentar remover Sócrates de cena. Não é legítimo, nem recomendável arriscar nessa querela a própria integridade do regime."

Será preciso dizer mais? É preciso ser mais explícito? Quem tem memória - vivida ou apreendida - sabe onde pode isto chegar: de tão ligeiros na escalada apenas garantimos o trambolhão da queda. E que tal - não pedindo muito - um bocadinho de bom senso?

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Na Rota do Cabo

Safámo-nos. No finzinho mas com mais facilidades do que supunha. Ainda bem: estamos no Mundial da África do Sul e vamos reabrir a Rota do Cabo. Agora há meses para trabalhar, primeiro, as ideias, depois, as escolhas e então a construção de uma equipa cujas prestações – já com tempo de treino para acertar nas balizas – possam ser motivo de orgulho e de gozo para nós portugueses adeptos de bom futebol. E já agora: que não deixem sempre para amanhã aquilo que a exigência manda hoje.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Há festa na Portela?

Estive no sábado na Luz. Não vim muito satisfeito com o que vi – irrita-me esta mania do futebol português de marcar e tratar de defender-se na lentidão, no toque, na volta, no retorno. Numa tocaia sem raça e assente naquele pausar de transições – naquele jeito de pé-para-pé insuportável - a permitir que a equipa adversária, toda ela, se recoloque atrás da linha da bola. Vitória por 1-0 foi o melhor que se conseguiu numa maré-cheia de sorte. E hoje?

Hoje, estou preparado para um à rasca de hora-e-meia. A ver a bola a voar pela área com sai-não-sai ou com o é-tua-é-minha da hesitação de três habituais centrais – preocupa-me o mais que provável atraso nas decisões que o facto de Pepe não ter os automatismos da posição irá provocar sob a pressão constante de bolas pelo ar. Já cá – com mais à-vontade – o triângulo tremeu; no inferno de fora e de dentro não estou optimista.

Mas no fundo, o que profundamente me irrita é esta mania de deixar as coisas acontecerem no limite – na continha merceeira, no milagrinho de uma qualquer santa. Ou à espera que alguém nos pague a pretensa dívida que a auto-estabelecida superioridade técnica lhes impõe. A ver…se a disponibilidade e motivação de Liedson contagia todos os outros e há festa na Portela.

Já é recorrente: sempre que a Selecção joga, torna a questão dos naturalizados. Que só deviam jogar portugueses, não naturalizados! ouve-se no empinado ofendido de defensores de pátria vilipendiada. Como se isto fosse propriedade fechada e onde só os nascidos e de sangue tivessem direitos e cidadania. Como se a História – exemplar nas rainhas e reis consorte - não nos dissesse o contrário. Dito de outra maneira: a questão do nacionalismo fechado – somos portugueses porque os nossos antepassados o são – já não tem – se alguma vez teve - qualquer cabimento no mundo globalizado em que vivemos. Qualquer pessoa pode querer tornar-se cidadão de outro país que não o de seu nascimento; qualquer país pode estabelecer regras para aceitar a cidadania nacional de terceiros. Acertadas as duas vontades – ou os dois direitos - o novo cidadão ganha o estatuto de cidadão nacional (se bem me lembro: a única excepção portuguesa é de Presidente da República). Ponto. Termino citando Eduardo Lourenço: O nascer num sítio não é um destino, é uma contingência.

A África do Sul está à distância da travessia de noventa minutos.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Fotaguarelas


Tem qualquer coisa de contra-senso a utilização de uma boa máquina fotográfica para desfocar fotografias. Mas foi o que fiz. Esta fotografia faz parte de uma série tirada num final de dia na praia.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Assalto ao Quartel de Beja, 1962

Almocei com o Edmundo Pedro. Para além de me ter feito a simpatia de me entregar para ler o capítulo inédito “As três tentativas para tomar o quartel” sobre o “assalto” ao Quartel de Beja a 1 de Janeiro de 1962, ainda tive a oportunidade de conhecer outras estórias que fazem a história – a do cognome de “Capitão Pimenta” como era chamado em Caxias. “Capitão” vinha-lhe de Beja onde se fardou – por 3 horas como gosta de frisar – de capitão. A pimenta diz respeito a uma tentativa de fuga do Tribunal de Santa Clara que só não se concretizou porque, depois de ter atirado com pimenta para a cara dos seus guardas, correu escada abaixo em direcção ao carro que mão amiga tinha estacionado próximo e em situação de fácil fuga. Só que…a porta tinha ficado trancada e a fuga terminou ali, agarrado pelos perseguidores com ajuda de um bom cidadão que lhe fez frente ao grito do PIDE de agarra qu’é ladrão! .

O que mais impressiona no capítulo que li sobre o “assalto” a Beja é que, estando-se em 1962, as coisas se tenham passado assim. O que demonstra bem o atraso de país que então éramos – o paraíso salazarista que saudosistas gostam de encenar - e que, hoje, temos enorme dificuldade em acreditar que assim fosse. Manuel Serra acreditava que podia tomar o quartel com uma ou duas pistolas; Edmundo está até convencido que podiam ser de brincar. O facto é que o quartel só não foi tomado – por uma força de assalto mista de civis e militares - por azares sucessivos numa sucessão de acontecimentos misto de reais dificuldades – a vida, embora parecendo filme, não é cinema – e de sucessivas ingenuidades que a razão do combate pela Liberdade terá ampliado.

Um sinal dado cedo de mais, uma retirada de sentinelas não realizada, uma pistola que inadvertidamente se dispara, uma precipitação e um ferimento grave de que resultou a força de assalto ficar sem comando militar e serem perdidos homens de acção para transportar o ferido ao hospital, o não aprisionamento – por ingenuidade romântica ou por necessidade de apoio ao camarada ferido – do comandante da Unidade, uma armadilha de que resultaram dois mortos e um ferido grave no lado dos revoltosos, a impossibilidade de controlar – por falta de articulação – o centro de comunicações que permitiu chamar a GNR para cercar o quartel e, na única sorte dos deuses, que dispararam sobre o membro do Governo que teria vindo saber dos acontecimentos, ferindo-o gravemente e obrigando à vinda de Lisboa de uma equipa de médicos de grande competência que acabou… por salvar a vida ao militar revoltoso ferido que comandara a operação.

Ler este capítulo abre-me as maiores expectativas sobre as restantes partes do livro. E permite reflectir sobre o Portugal de então – sobre o atraso, o medo e a estrutura de terror policial que nos manietava - e que podia ter tido nesta acção o 25 de Abril, doze anos antes, mesmo apenas com duas pistolas de ameaça.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Caiu há 20 anos

A primeira vez que fui a Berlim já o Muro tinha caído. Fui lá – meses depois e com o António Costa e o António Manuel – assistir, junto do SPD então liderado por Oskar Lafontaine, às primeiras eleições na nova Alemanha. Claro que já tinha ouvisto falar do Muro e do mítico Checkpoint Charlie, de relatos de diversas e difíceis aventuras de fugas tentadas e conseguidas, dos atletas da RDA – de cujas proezas sei hoje o significado - e daquele ar de campo de concentração que o Muro dava à cidade.

Fiquei em Berlim Leste num super hotel da desaparecida nomenklatura – a casa de banho tinha uma dimensão de ginásio. Vi aí, notáveis edifícios clássicos - aparentemente bem conservados - e uma não-arquitectura nas coisas correntes e novas. Vi ainda partes do Muro – um bocado, transportável, ainda está numa gaveta cá de casa - percebi o seu traçado e o corte da cidade, vi Trabants e realizei a estupidez que pode atingir o espírito humano – e da qual dificilmente nos livrámos como se ouve em propostas em Israel e no Brasil - quando dominado pelo poder dos preconceitos e da visão totalitária da vida. Visitei cidades e aglomerados do outro lado, estive no Bairro da Stasi onde continuavam as famílias de secretas oficiais. Ouvi e discuti sobre as vantagens e inconvenientes da mudança da capital de Bona para Berlim – nós dizíamos não haver alternativa: ninguém na Europa iria compreender; eles respondiam que Berlim havia sido a capital nazi e não gostariam de o relembrar. Mas assistimos também ás enormes dificuldades do staff do SPD para elaborar uma estratégia capaz de enquadrar a novidade da unificação. Incapazes de se adaptar, os estrategos de Lafontaine queixavam-se da surpresa e não sobreviveram eleitoralmente. Compreendi claramente um conceito que deste então me acompanhou: demasiado planeamento vale o mesmo que nenhum!

Digiscoping: a Lua


O Digiscoping é um método de fotografar à distância recorrendo a uma máquina fotográfica digital acoplada a um telescópio. É cada vez mais utilizada para fotografar aves com a vantagem de permitir utilizar o usual telescópio de observação, tornando a fotografia economicamente mais acessível – o preço de um telescópio é muito menor do que uma teleobjectiva para o mesmo efeito - mas garantindo uma notável qualidade final (vejam-se exemplos pela net fora). Hoje já se recorre a adaptadores que as marcas fabricam para criar sistemas mais fiáveis e de maior facilidade de uso – principalmente na rapidez de utilização. Técnicas deste tipo são também utilizadas na astrofografia. Lembrei-me de experimentar e fotografar a Lua: uma máquina digital, um telescópio de observação de aves e um adaptador. Prioridade à abertura e alguns disparos experimentais para definir o tempo de exposição e pronto. Gosto do que vejo e fiquei a perceber que cada fotografia de aves que faça com este método mas sem penas visualmente definidas e focadas, só acontece por pura azelhice. Minha,claro.

domingo, 8 de novembro de 2009

Edmundo Pedro, 91 anos

Hoje faz 91 anos o meu amigo Edmundo Pedro (n. 1918). A história da sua vida – num país atento à memória e à construção da sua História real – daria um filme extraordinário. A Resistência em pessoa. Revoltas e revoluções, prisões, clandestinidade, Tarrafal ainda miúdo e por dez anos, assalto ao quartel de Beja (está a escrever sobre isso), história e estórias do PC em Memórias – Um Combate para a Liberdade, 2007, Deputado à Assembleia da República pelo PS. Cavaleiro da Liberdade, da Democracia e da Ética dos Valores da Esquerda, passar tempo com ele é ter acesso a um maior conhecimento do Mundo e da Humanidade. E aprender o significado de Solidariedade. Um abraço, meu caro.

sábado, 7 de novembro de 2009

País de muito mar

Somos um país pequeno e pobre e que não tem
senão o mar
muito passado e muita História e cada vez menos
memória
país que já não sabe quem é quem
país de tantos tão pequenos
país a passar
para o outro lado de si mesmo e para a margem
onde já não quer chegar. País de muito mar
e pouca viagem.
Manuel Alegre (17-5-2006)

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Tem Prémio!

Vi o vídeo da senhora – finlandesa ao que suponho. Se percebi bem, diz mais ou menos isto: a elite – presume-se naturalmente amigos do Rumsfeld do Tamiflu – querem reduzir a população mundial a 2/3 da população actual. Por óbvias razões de garantia de espaço vital ou, tão só, para mero desafogo.
Para isso começaram – em acordo com a dimensão hercúlea da tarefa – a trabalhar vai para anos. Primeiro terão inventado o vírus H1N1; depois lançaram uma campanha – só para certos casos mas onde o actual iria caber – para que a Organização Mundial de Saúde decretasse a obrigatoriedade generalizada da vacinação; depois ainda, criaram uma vacina mal enjorcada; e definiram com o primeiro: crianças e grávidas! a certeza de liquidação da próxima geração Tudo bem feito: ganhavam um dinheirão com a venda das vacinas; matavam uma data de malta e atingiam o objectivo perseguido – lucros inimagináveis e menos população para o mesmo mundo.
Um alívio! Uma borga! Estruturada sobre uma extraordinária estratégia. A senhora tem prémio. Hollywood, atenta, já propôs a compra do guião. A senhora, resiste – quer o papel principal, o de cientista num laboratório africano do sopé do Kilimanjaro e que tem um caso torridamente amoroso com o Tom Cruise. E é claro, não querendo tomar a vacina contra a gripe A, tem tido problemas com o Sindicato dos Cinemas. Daí o atraso.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Estádio Maior do Algarve

A propósito do Algarve não poder ficar de fora do eventual Mundial de futebol, leio em A Bola o dizer do sr. Presidente da Associação de Futebol da região a propósito do Estádio do Algarve terminado em 2004:«As obras terão de ser efectivadas com ou sem Mundial, pois o prazo de validade das bancadas dos topos, amovíveis, deve estar a expirar. Por isso, era importante aproveitar esta organização para remodelar o complexo, colocando bancadas definitivas.»

Como disse?! Bancadas definitivas?! Para quem, para quê e pagas por quem? Se pela Associação de futebol a que preside, ainda vá – o custo do disparate ficaria circunscrito aos seus responsáveis. Mas não evitaria o desperdício…

A mais-valia do Estádio do Algarve encontra-se precisamente na colocação de bancadas amovíveis com o que foi possível transformar a obrigatoriedade dos 30.000 lugares do EURO 2004 numa lotação fixa de 18.000 lugares, aproximando assim a capacidade do estádio -embora ainda em demasia - do possível para a região e para os seus espectáculos desportivos permanentes.

As bancadas de topo não se fizeram para a eternidade – fizeram-se para deixarem de lá estar e para diminuir os custos de manutenção, uma vez que já permitiram, a seu tempo, diminuir os custos de construção.

Curiosa inversão: sobre a adequação procurada quer-se agora a ampliação do elefante. Como se algo tivesse mudado. E logo atrás, aposto, virá choradinho…em nome de um qualquer interesse nacional. Como de costume.

Instalação dos Órgãos Municipais de Lisboa

Teve ontem lugar a Instalação dos Órgãos Municipais da Câmara Municipal de Lisboa. Ao ar livre, a 3 de Novembro – quantas capitais europeias se podem dar a este luxo? – na Praça do Município marcado por duas boas intervenções. De Paula Teixeira da Cruz, presidente da Assembleia Municipal cessante, gostei do pedido-exigência para uma maior acessibilidade dos serviços ao comum dos mortais e da afirmação que “as instituições não devem servir clientelas.” num contexto geral de reclamação de abertura e transparência de pequenos poderes. De António Costa, o já nosso próximo presidente, saliento o caderno de encargos que garantirá uma Lisboa mais agradável e simpática para quem cá vive ou trabalha. Dos diferentes temas saliento a reforma administrativa concelhia e o objectivo de estabelecer dimensões críticas urbanas equilibradas, a maior esperança na descentralizada limpeza da cidade e a referência à eliminação da calçada à portuguesa – esse mito urbano genericamente inaplicável numa cidade de colinas e ruas de sobe e desce a receberem sol todo o ano.
Foi um bom fim de tarde a permitir algum optimismo na necessária melhoria da qualidade de vida da nossa Lisboa.

Túneis e esperas

Como é possível pagar-se o que se paga para ver um jogo de futebol, pagar-se o que se paga a cada um dos jogadores de futebol e assistir quase como regra a cenas patéticas de falta de civismo em túneis ou esperas de rua (já não falo de desportivismo, de respeito pelo outro, de valorização do outro para valorização nossa. Enfim, de tudo aquilo que define o ambiente desportivo são.). Pior: como é possível todos olharmos e, fazendo que não vemos, deixar esta larva medrar? Como lembrava Brecht, quando nos tocar…já será tarde!

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Por ter e não ter

Segundo o Público, Carvalho da Silva, secretário-geral da CGTP, a propósito da Ministra do Trabalho, disse assim:”[…]. Mas está a espalhar-se a ideia de que Portugal tem uma ministra do Trabalho sindicalista, como se o patronato estivesse em situação de desfavor. Isto pode ser uma armadilha muito perigosa.[…]” Armadilha?! De quem? Do patronato? De Sócrates? Da malta? E se a escolha fosse de alguém ligado ao patronato, era melhor? Menos armadilha? Menos perigosa?
Ainda a senhora não abriu a boca e já o dr. Carvalho da Silva lhe faz um processo de intenções. Como preparação da defesa de trabalhadores que passam por sérias dificuldades não há melhor senso:os mosquitos feitos cordas são o garante de risonho futuro.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Franco invasor

Na linguagem dos meus primeiros anos no Colégio Militar – depois a Guerra Colonial alterou o registo – e na do militar da família, sempre ouvi que a Espanha era o inimigo – o IN – o IN dos exercícios do Estado Maior. Uma Castela disfarçada era o que era. E sempre a desconfiança unionista: de Espanha nem bom vento, nem bom casamento. E o povo, quando diz, sabe! Nunca me dei bem com esta ideia que me parecia filha do apoio às longínquas incursões monárquicas aquando do início da República – sempre gostei dos “nuestros” e daquele gozo de viver. Gosto das suas cidades medievas, do Eixample, do Gótico e do futebol barcelonês, de muita da arquitectura, das panorâmicas direccionadas do País Basco, dos encierros de S.Fermín. Acho graça àquela expressão de mania das grandezas, do superlativo em cada momento, das voltaretas do flamengo, do cante jondo, daquele ar de drama, festa, caramba e olé! Olé!

Com a demonstração do agora publicamente conhecido plano de Franco para invadir Portugal em 1940, percebo finalmente as razões que ultrapassavam a memória. E a desconfiança do meu tio Carlos: de sempre e até hoje. Mesmo sabendo-se, como se sabe, que o Franco em nada facilitou a pretendida invasão americana no pós-25 de Abril. O que, pese o agradecimento, não faz dele nem melhor nem pior pessoa. Nem melhora o juízo: era um ditador.

Doru-t Mt

Na parede, junto ao Multibanco, assinada mas com a cortesia de não deixar destino Doru-t Mt - será que ainda acontece: 'Tás doido?! puseste o meu nome? e se o meu pai vê?...
Acho graça a estas formas e gosto particularmente do cuidado do hífen. Como aliás, às escritas em inglês do tipo: Nite, Lov U, T42, U2... O único receio é se um dia for obrigado a ler um relatório construido nesta escrita rápida.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Relva Artificial

No jornal A Bola e a propósito do mau estado da relva de Alvalade, Ernesto Ferreira da Silva – na provavelmente melhor descrição publicada na imprensa portuguesa – e José Manuel Delgado, vêm falar das relvas artificiais, das suas vantagens e do seu mais que provável futuro. Na Medida Desporto do QCA III e desde 2000 que apoiámos a colocação de relvados artificiais. As razões: maior utilização – disponibilidade de 24 horas diárias contra 10/12 horas semanais dos relvados naturais (o número de utências é esmagadoramente superior bem como a sua variedade); menores custos de manutenção; menor necessidade de água (um bem cada vez mais precioso). Para além disto – que se traduz numa regra simples: se a utilização de um relvado natural significa custos, no relvado artificial os custos estão na sua não utilização – o desenvolvimento actual da relva artificial não deixa dúvidas sobre a qualidade do jogo possível. Mas para que assim seja – consultar o site da FIFA - devem ser verificados os procedimentos que então definimos e utilizámos. Em 5 passos sequenciais:
  1. Considerar apenas produtos de fabricantes certificados pela FIFA (propósito: garantia de qualidade e responsabilidade);
  2. Dentro dos produtos destes fabricantes considerar apenas tipos de relvas instalados em campos já aprovados por testes efectuados por laboratório acreditado na FIFA (propósito: responsabilização do instalador);
  3. Analisar as propostas das relvas assim apresentadas com base na relação custo/benefício (propósito: comparar e adequar);
  4. Escolher a relva a aplicar e garantir os necessários contratos de manutenção até haver - se for o caso - pessoal treinado e capaz de garantir uma manutenção qualificada (propósito: assegurar a manutenção e a durabilidade da instalação);
  5. No final da montagem efectuar, por laboratório credenciado, os testes de acordo com o Protocolo aprovado pelas instâncias internacionais - FIFA, IRB, FIH (propósito: garantir a aceitação da obra de acordo com as exigências pretendidas)
Com estes procedimentos foram realizados na vigência do QCA III, 77 campos em relva artificial assim distribuídos: 26 no Norte; 10 no Centro; 15 em Lisboa e Vale do Tejo; 16 no Alentejo e 10 no Algarve.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Estádios bum! e pum!


Os estádios de Aveiro e Faro têm um particular comum: não têm equipas de futebol capazes e não conseguem espectáculos e espectadores suficientes para a sua utilização eficaz. Quer dizer: não têm gente. Para Aveiro lança-se a solução fácil e de pouca viagem: impluda-se! Para o de Faro procura-se, num mais olhos que barriga que pouco quer saber do dia seguinte, garantir uma participação na hipótese Mundial de 2018/22 lançando a escada da ampliação.

Gosto da malta: foguetes, fungágá e o que mais vier logo se verá...

E que tal pensar um bocado. No mínimo, para o de Aveiro, puxar pela cabeça - um concurso de ideias para a utilização rentável e sustentável do estádio ao longo do ano era passo mínimo exigível como resultado de tanta preocupação.

Em Faro, que teve a qualidade de ter sido o único estádio que aceitou a recomendação de preparar, logo em projecto, a possibilidade de reduzir a sua capacidade de espectadores para um número menor do obrigatório 30.000 da UEFA, o problema do aumento entroca na consequência actual de Aveiro: feito "O" jogo, que dia seguinte podem ter? Se descobrirem esta pólvora, se estabelecerem uma estrutura amovível com aplicação posterior noutro(s) local(is) de espectáculo (desportivo(s) ou não), a hipótese - tendo o resto que são aeroporto, hóteis e meios de comunicação - pode realizar-se. Se o Mundial vier para a Ibéria...

Equipamentos Desportivos da Medida Desporto do QCA III


A equipa que comigo trabalhou na Coordenação da Medida Desporto do QCA III - responsável pela comparticipação FEDER em Equipamentos Desportivos - foi constituída pela Alexandra Ferreira, Carla Nunes, Susana Fatela, José Latino Tavares, Luís Carlos Alves, Rafael Lucas Pereira e Nuno Silvestre. A todos agradeço publicamente o empenho, a competência e a amizade. A excelência do seu trabalho permitiu que atingíssemos níveis muito para além do esperado e que os indicadores definiam. Pessoalmente estou muito satisfeito com o trabalho realizado. Na quantidade atingida e na qualidade conseguida.


quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Colégio Militar

Se aquilo de que se fala – os seis casos para oito acusados – se passou como Garcia Pereira descreveu, é INACEITÁVEL! Sendo assim, há que investigar até ao limite do conhecimento da verdade, punir exemplarmente os culpados e construir as condições que garantam a IMPOSSIBILIDADE da repetição de situações idênticas ou similares.
São, ao que posso ler, seis casos muito graves, de óbvios e violentos despotismos e prepotências. Impõe-se portanto o seu esclarecimento cabal e total. Rapidamente! Enquanto ex-aluno, exijo-o.
Mas gostaria de frisar que, mesmo com a reconhecida gravidade destes seis casos, a ninguém é permitido o abuso de considerar o Colégio Militar como uma selva de violência e terror. Zacatrás!

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Fotografar Baleias nos Açores


Fotografar Baleias nos Açores é um prazer enorme alimentado de momentos inesquecíveis. Boa máquina, bom barco e piloto conhecedor são - para além de corpo bem tapado para evitar queimaduras - os meios necessários para garantir estórias para contar.

Como disse?

Numa lambidela de programas televisivos fui parar a um programa (tardio) de humor em que dois humoristas se entrevistavam. O da casa - menor em estatuto - tentava dar-se ares. Não que se colocasse acima do entrevistado - apenas fazia por se nivelar. E às tantas, subido o nível e falando-se do mal que Portugal lhes faria, saiu: isto não é um país! Ó golpe de sorte! E o entrevistador lança-se: é um sítio e mal frequentado como dizia o grande Almada Negreiros! Porra, pensei, ganda kultura, meu!
Azar: o "Isto não é um país, é um sítio mal frequentado" pertence à fala de Alexandre Alpha (a propósito de uma visita de Roland Barthes a Lisboa) e foi escrito por José Cardoso Pires - página 28 da 1ª edição em 1987.
Pois é... por aqui anda a culturazinha a dar-se ares de intelectualizada importância...e o Almada dá um jeitão para estas alturas. Ó se dá!
A propósito: a Sophia Bonifrates, para enorme espanto do Sebastião Opus Night, estabeleceu nove e meia. Em ponto, frisou. As outras nove e meia são semanas e de uma outra estória
.

Arquivo do blogue

Seguidores